Chamado à Razão

As pernas curtas procuravam no resto do corpo algum motivo para continuarem no ritmo que estavam havia algumas horas. Os braços doíam do movimento intenso e repetitivo que era tão necessário ao equilíbrio. No peito o palpitar que se esforçava para manter as ordens dadas pelo cérebro aos membros exaustos lutava para não falhar. Os olhos não enxergavam mais nada além do destino à frente, eles não precisavam funcionar tão bem quanto o resto do corpo, a vida estava na capacidade de correr o mais rápido que o corpo de uma criança fosse capaz. O pânico se misturava ao cansaço e já não era mais possível saber se o frio subia a espinha por causa do medo ou porque o corpo já se dava por vencido. Talvez também em dúvida, a voz não encontrou saída na primeira vez em que tentou gritar.

— Mãe! — Foi o som rouco que conseguiu se libertar. — Eu vi um dragão! Um dragão!

A silhueta o preencheu como mágica. O frio na espinha continuava lá, mas o coração parecia ter nascido de novo. Imundo com a mistura de lágrimas, suor e poeira, agarrou-se à barra da saia e desabou, engasgando enquanto tentava redescobrir o ar. Ela olhou despreocupada e deu no filho um abraço que só deixou tudo pior. Pela primeira vez ele queria ficar o mais longe da mãe que pudesse.

Os olhos do menino eram só lágrimas, suas calças sujas e molhadas, a angústia fugia com as palavras entre soluços. Os joelhos finos tremiam, guiando o resto do corpo no horror que não tinha controle.

— Ele era grande e fedia! Tinha um rabo enorme, asas e olhos assustadores. Mãe, eu tenho medo!

Afundou no abraço frio dela para tentar conter os soluços. Apertou com os bracinhos de graveto, fechou as mãos nas costas dela em um beliscão doído e, por um instante, desejou sufocar naquela segurança. Quando estava quase perdendo o ar, o medo súbito de não ver mais aquela mulher obrigou-o a afastar o rosto e olhar em volta. Sentia que a fera estava por ali e, se não estivesse, chegaria em breve.

Os cachos escuros dela fizeram cócegas no nariz do filho quando os braços rechonchudos o afastaram. Seu rosto era só sorrisos, o que fez seu filho se acalmar.

— Vai ficar tudo bem, querido — disse, bagunçando os cabelos do menino. — Dragões não existem — a voz dela correu os ouvidos e matou a sede do filho por paz, ainda que o medo continuasse sendo maior.

— Existem sim! Eu vi um! E ele… Ele vem pra cá! Está atrás de mim!

Ela não o levava muito a sério.

— Por que um dragão estaria atrás de você? Não temos nada que pudesse interessar a ele.

— Ele não queria ser acordado — resmungou. — Mas eu acordei ele! Foi sem querer, mãe! Não quero morrer, não quero que você morra!

O menino não notou que a expressão da mãe permaneceu a mesma, apenas a soltou e correu na direção da estrada, sem olhar para trás. “Devia mandar mamãe se esconder”, era tudo o que ele pensava naquele momento. Mas algo o dizia que não adiantaria, ou que não poderia. O melhor que poderia fazer era pedir ajuda a sir Johann, o herói local, e torcer para que ele fosse capaz de vencer o dragão. Foi o que fez.

— Vou salvar a todos nós, mamãe! Não vai chorar por mim como chora pelo meu pai, vai ver! — Gritou.

O garoto não lembrava do caminho até a capital ser da maneira que foi, nem que os guardas tivessem tão pouco critério permitindo a entrada de estranhos pelos portões, mesmo que fossem crianças. Mas ele acreditava que aquilo era a ajuda de Deus, que sempre chegava nos momentos certos e necessários, como o Padre Marthell costumava dizer.

O mercado recepcionava todos os visitantes da cidade, enchendo as ruas com pessoas, tendas e a mistura do cheiro de comida, terra e tinta. O menino imaginava como passaria entre toda aquela gente e entendia por que sua mãe preferia viver longe daquele lugar. Eram estátuas móveis que dançavam umas entre as outras com alguns esbarrões. Mais do que os produtos, o pagamento por eles tinha a principal atenção de todos, com vendedores e compradores deixando a altura da voz decidir o que acabaria sendo acertado. Capangas armados eventualmente facilitavam as coisas para um dos lados.

Ele se espremia entre a multidão, esquivando, parando, girando, abaixando e esbarrando em cestas e barracas. E mesmo assim ninguém percebia sua presença, ou não se importavam. Algumas pessoas mexiam a boca, mas não tinham voz — essas em especial chamaram sua atenção. Era esquisito, mas ele acabara de ver um dragão, imaginava que poderia ser algum tipo de feitiço, e temia por isso, pois até então ninguém nunca havia visto um deles. Quem seria capaz de retirar esse encantamento além da própria criatura? Isso não teria importância se no final ele e todos os outros estivessem mortos. Primeiro chamaria sir Johann, depois pensaria em se livrar do feitiço.

A multidão era ideal para causar enganos e levar a erros de julgamento. Por isso a guarda da cidade evitava o mercado, deixando os crimes e problemas por conta dos mercenários que eram pagos pelos mercadores. Graças a isso, as áreas nobre e eclesiástica — quase um oásis além daquele deserto de moedas — eram tomadas por guardas, todos fortemente armados e sempre alertas. Estranhamente, estes, assim como os outros, pareciam não perceber a presença do jovem, que de primeira tentou olhar para dentro das casas a procura do cavaleiro, mas logo se deu conta de que não conseguia lembrar onde ele morava e se o procurasse dessa maneira, demoraria a vida toda. A solução era vencer o medo que sempre teve desses homens de armaduras incômodas.

— Senhor, pode me dizer onde encontro sir Johann? — Perguntou com toda a educação dada por sua mãe, esticando o tecido vermelho da calça que o soldado vestia por baixo de sua armadura.

— Quem? — Respondeu o guarda, entre todos ali o que parecia ser mais amigável.

— Como assim, quem? — Respondeu o menino. — Sir Johann, filho de Lorde Gallund e noivo da princesa Emily. Comandante das tropas do Norte e futuro rei de todas essas terras!

O homem desatou a rir como se fosse morrer disso. Apontou para o soldado ao lado, que assim como os outros parecia não ter percebido a cena, tentou recuperar o fôlego e disse:

— Ei, Lorde Gallund! — A frase toda soou como uma piada. — Esse garoto está procurando pelo seu filho!

Gallund desceu a cabeça até encontrar os olhos do garoto, que parecia não entender o que significava. Aquele homem jamais teria condições de ter um filho com a mesma idade de Sir Johann.

— Filho? Que filho?

— Este jovenzinho diz que precisa falar com seu filho, o futuro rei ou algo assim. Talvez ele precise dos favores reais — debochou o guarda.

— Que história é essa? — Gallund se abaixou para o menino. — Não tenho filho nenhum, ao menos que eu saiba, nem mesmo um título de nobreza! Talvez esteja procurando outra pessoa, mas posso garantir, ela não é dessa região, sou o único Gallund por aqui.

— Não pode ser. Eu me lembro de sir Johann! Ele me prometeu, bem ali no pátio central, que ensinaria como lutar com espadas — o menino apontou para um enorme pátio de frente para a igreja no qual a nobreza e a burguesia se encontravam e os soldados gastavam seu tempo de descanso.

Ao ouvir o nome de sir Johann, o semblante do soldado se contorceu. Seus olhos quase saltaram das órbitas enquanto balançava a cabeça garantindo que ninguém havia ouvido aquele nome.

— Merda! — Gallund praguejou e se aproximou ainda mais do garoto, agora cochichando. — O que quer com ele?

— Eu… Eu vi um dragão. E ele está vindo para cá! Precisamos encontrar ele antes que seja muito tarde — respondeu o menino que gesticulava como se Gallund falasse outra língua. — Só ele pode nos ajudar!

O soldado fez uma careta de surpresa e descrédito. Então sussurrou no ouvido do menino.

— Sei onde sir Johann está. Mas a partir de agora não diga mais o nome dele em voz alta, pode ser perigoso! Você tem muita sorte por Nicholas ser novo demais pra reconhecer o nome — Gallund então se levantou, olhou para um soldado descansando à distância e gritou: — James! James! Você pode tomar meu lugar aqui? Só por alguns minutos. Esse garoto tem uma mensagem importante a entregar, preciso escoltá-lo até o castelo. — A resposta foi afirmativa. O homem pequeno se levantou, desajeitado, e correu até seu posto temporário.

Gallund e o menino foram na direção do castelo e, assim que saíram do campo de visão de James, mudaram o caminho.

— Esqueci de perguntar, qual seu nome, menino?

— Erick, senhor.

Gallund então parou; virou-se e olhou para baixo, o garoto quase trombou com ele.

— Então, Erick, como conhece meu pai?

— Seu pai? — Ele se surpreendeu. Não fazia sentido, sir Johann não tinha filhos, não ainda, pelo menos. — Como assim seu pai?

— Meu pai, oras! Sir Johann é meu pai, pelo menos é o que ele sempre me disse. Tanto que tenho o nome de meu avô.

— Mas, ele não tinha filhos.

— Ele não tem filhos, tem um filho — respondeu Gallund, atento ao caminho e visivelmente aborrecido; mas não mais do que Erick, que não tinha palavras e tentava entender o que estava acontecendo. Coisa muito difícil para uma criança. Na cabeça dele, por algum motivo fazia mais sentido aquele jovem ser pai do lendário sir do que um filho.

— Merda. Vamos até ele, talvez consiga explicar — o soldado puxou o menino pelo braço e ambos se esgueiraram através dos becos da cidade, cada vez se afastando mais do centro por um conjunto de vielas que ia aos poucos se estreitando em becos malcheirosos habitados por todos aqueles que a cidade não suportava encarar.

Estavam na periferia da cidade, conhecida como Gueto do Vale. Dizia-se que, depois de certo horário, não era aconselhável zanzar por lá sem pelo menos quinze soldados bem armados. Mas a passagem deles foi bastante pacífica, algumas daquelas pessoas até acenavam para Gallund, o que deixava Erick ainda mais assustado.

— Até chegarmos à casa de meu pai, não faça nenhum barulho, apenas me siga e obedeça cada palavra minha.

O menino ainda tentava entender todo aquele lugar a sua volta. Não se lembrava de ter visto nada daquilo antes. Em sua memória aquele lugar todo era um cortiço, sim, mas dos mais bonitos, com soldados, ferreiros, mercadores e açougueiros. Não fazia sentido mudar daquilo para esse pedaço de loucura em menos de uma semana, alguma coisa não estava certa. “É magia do dragão, com toda a certeza!”, dizia a si mesmo. Ele acreditava que criaturas como essas eram capazes de absolutamente tudo, só precisavam querer.

Gallund só parou quando chegaram a um beco sem saída, formado por sobrados tortos de alvenaria, onde os andares mais altos abriam bocarras que engoliam a luz enquanto avisavam que ninguém deveria se aproximar. O beco era cheio de vida à sua maneira, habitado por velhos, escória, escravos alforriados e ex-condenados.

— Chegamos — anunciou Gallund.

— Como assim, “chegamos”? Chegamos aonde? — Erick puxou a manga do soldado.

— Na casa do meu pai.

Era a maior casa naquele lugar, que sozinha tomava dois andares e parecia estar sendo sempre vigiada pelos sobrados ao seu redor, como se quem morasse lá fosse mais importante que seus vizinhos. A expressão de Gallund saltou do receio para a mais profunda vergonha. Ele ficava extremamente desconfortável naquele lugar, e sempre que ali estava, a única coisa na qual pensava era em ir embora.

Diferente estava o rosto de Erick, que podia ser interpretado como a mais pura decepção, com sinais de preocupação e medo que faziam brotar rugas profundas, nada comum em crianças.

— Casa do seu pai? Por que o maior herói que essa terra já viu estaria morando aqui e não no castelo?

— Está difícil acreditar que você não seja maluco. Meu pai não é esse herói do qual fala há mais de quinze anos — o soldado desviava o olhar da casa o quanto podia. — Afinal, que história é essa de dragão?

Erick tentava fazer tudo aquilo se colocar em ordem na sua cabeça da maneira que podia, por isso demorou um tempo até responder:

— Eu estava caçando pedras na praia, quando vi uma diferente, saindo da areia, ela tinha uma cor esquisita, parecia uma noite de céu estrelado. Não era tão grande e tinha letras engraçadas que nunca vi na vida. Foi a primeira coisa que li.

Enquanto o menino contava a história, os olhos de Gallund saltaram, sua pele ficou pálida, suas mãos encresparam, por um instante não sentiu as próprias pernas, até seus cabelos se ouriçaram e alguns que lá estavam poderiam jurar que também ficaram grisalhos. Era como se a realidade, por uma fração de segundos, o socasse no rosto e lhe ajoelhasse no estômago. Seu corpo inteiro reagiu. E tudo no que ele conseguia pensar era “não Deus, por favor, ele não.”

— Então eu li. Alguma coisa me obrigou a dizer as palavras em voz alta, mas não entendia. A única coisa que ainda consigo me lembrar é Cthulhu fhtagn. E essas palavras não saem da minha cabeça desde aquela hora, repetindo, martelando, me irritando. Então eu vi o dragão saindo do mar. E é tudo do que me lembro

De sua morada em R’lyeh, Cthulhu morto espera sonhando — disse Gallund sem controle de seus lábios. Era quase possível ver sua alma se retirando do corpo em puro terror.

Para ninguém ali as palavras eram estranhas, mesmo para quem nunca as ouvira. E todos ficaram aterrorizados com elas, mesmo sem saber por quê. O mundo parecia tremer, o céu escurecer e então tornar-se rubro, para ficar claro como uma manhã ensolarada e novamente se cobrir de breu.

Ph’nglui mglw’nafh Cthulhu R’lyeh wgah’nagl fhtagn — disse Erick, sem perceber sua boca mexendo. O som dessas palavras matou dois idosos, causou o aborto de uma jovem, rasgou a razão de três pessoas e trouxe os dois idosos de volta a vida, seguidos do choro abafado do feto abortado que então tornou-se um urro gutural que fez a mãe gritar em loucura e verter sangue em lugar de lágrimas. Essas palavras pertenciam tão pouco ao mundo que o cérebro as interpretava como qualquer outra coisa semelhante, mas não encontrava um significado. Então as transformava em sussurros indistinguíveis que mesmo assim se faziam entender, gelando a espinha.

Gallund puxou a criança pelo braço para dentro da casa de Johann, sua expressão de temor passou para o desespero, sabia que nada mais poderia ser feito, mas é da natureza humana sempre acreditar que há uma saída. Ela poderia estar em seu pai.

— Meu pai está aqui porque descobriu sobre essa pedra e O Inominável. Tentou alertar a todos junto com um dos jovens soldados mais leais a ele. Ambos foram chamados de loucos e expulsos. Tentou viver normalmente por três anos, conheceu minha mãe. Ela morreu no meu parto — sangue escorria no lugar das lágrimas e cada soluço do choro arrancava a vida do rosto de Gallund. — A meu pai foi dado o perdão e permitido viver novamente na cidade, desde que esquecesse isso tudo. Mas o soldado que estava com ele voltou e o carregou para essa loucura novamente. Eu cresci vendo meu pai enfiado em livros, sem sair de casa por meses, apenas estudando maneiras de prever a chegada daquela coisa. Mas ele morreu antes de conseguir.

— Como assim morreu? Sir Johann morreu? — O menino puxado pelo braço não conseguia se soltar ou parar de acompanhar o soldado. — Se ele morreu, para onde você está me levando? Pode responder? Você me ouve? Me solta!

Erick só conseguiu se soltar quando chegou ao quarto de Johann, onde supostamente ele deveria estar. O fedor azedo que empesteava o ar servia para preparar quem entrasse naquele lugar às coisas que veria ali. Tudo o que restava eram livros ensebados, cheios de poeira e traças, espalhados por toda a parte. Em um canto, jogado, estava um cadáver quase sem pele, com a carne escura descolando dos ossos, unhas, barba e cabelos em tamanhos descomunais ao lado de uma espada arruinada e vestindo o que um dia deve ter sido uma armadura.

— Boa tarde, Erick — a voz cavernosa regida pelas batidas das mandíbulas ósseas vinha do que foi a boca de sir Johann. Era grotesco, mas fazia o menino sentir uma vontade incontrolável de rir. — Ou devo dizer boa noite? Sabe, quando Ele acorda, já não conseguimos mais entender a passagem do tempo. Nem precisamos, na verdade. Já sabemos que não nos resta muito dele.

— G-Gallund… — Erick olhou para o lado e tombou com o susto, o soldado jovem agora era um monte de carne podre com um rosto sem olhos, estatelado no chão, os dedos se desprendiam e caíam e a roupa estava mal colocada, já que não havia mais volume para vestir.

— Receio que devamos agradecer tudo isso a você — o que sobrou de sir Johann gargalhou e começou a bater palmas para o menino. O ruído seco que as mãos esqueléticas produziam fez Erick tremer dos pés a cabeça e deixar escapar um suspiro desesperado.

A gargalhada e as palmas se prolongaram. Primeiro por um espaço de tempo que pareceu horas, que então se tornaram dias, que duravam meses, com o martírio de anos. E todo esse ruído ressoava na cabeça do menino que, ao tentar tampar os ouvidos, sentiu barba no próprio rosto. As palmas cessaram junto com o som de ossos se quebrando.

Seus olhos outra vez abriram para a verdade.

Todos os dias começavam da mesma forma: quando criança, correndo atrás da segurança da mãe e jurando protegê-la ao invés de matá-la, como realmente aconteceu. Todas as vezes tomava sua mente e seu corpo um impulso monstruoso de permanecer ali, abraçado a ela assistindo o que aconteceria; mas o subconsciente sempre o puxava para o mesmo lugar, para o homem cuja vida destruiu, para a realidade que ajudou a criar, para todas as vidas que arruinou. No começo, quando se viu sozinho em um mundo enlouquecido, tentava se acalmar chorando, mas as lágrimas secaram ou a mente já não aguentava mais aquilo e passou a tentar se enganar num misto de desejo e sonho que arrastava-se para um pesadelo.

Porque a realidade era muito dolorosa; e mesmo assim, nada disso é tão aterrorizante e enlouquecedor quanto ver Ele com os próprios olhos.

Quanto saber que Ele acordar é culpa sua.

Author: Marco Rigobelli

Nascido há 27 anos na capital paulistana, Marco Rigobelli já desenhou, já teve banda e no fim não continuou com nenhuma dessas coisas. Mentiroso profissional, escreve para o papel, para as telas, para os palcos e para as caixas de som. Gosta de contar histórias e de falar sobre contar histórias.

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