Cláudio Villa nasceu em São Paulo, em 1979, e sempre foi apaixonado por navios a vela e histórias de piratas. Em 2007, publicou seu primeiro romance de fantasia Pelo Sangue e Pela Fé. Desde então, publicou contos em antologias como Anno Domini (2008), Steampunk (2009), Galeria do Sobrenatural (2009) e Crônicas de Tormenta (2011) como autor convidado.
Em 2008, iniciou o projeto da Mirr Enciclopédia, uma wiki de referência a seu universo ficcional, permitindo a seus leitores explorar seu universo de fantasia. Em 2012 seu segundo livro, O Vento Norte, se tornou o primeiro romance de literatura fantástica nacional a ser totalmente desenvolvido através de um projeto de financiamento coletivo (crowdfunding): catarse.me/pt/vento_norte.
O conto foi inspirado em uma lenda de Grace O’Malley. Qual parte é a “verdade”, e quais as liberdades que tomou?
Durante a minha pesquisa para escrever O Vento Norte, eu pesquisei muito a respeito das histórias de mulheres piratas, que infelizmente possuem uma documentação muito escassa. Uma das quais encontrei mais informações foi exatamente Grace O´Malley (ou Granuaille), que foi uma nobre escocesa que viveu durante o século XVI.
Dentre as muitas lendas a seu respeito, a que mais me chamou a atenção foi um incidente no castelo de Howth, em 1576, quando ela tentou fazer uma visita ao senhor do castelo e teve sua entrada recusada pois a família alegou que estava jantando. Em retaliação, Grace sequestrou o neto do nobre e o devolveu com a condição de que os portões do castelo permanecessem sempre abertos e que sempre fosse colocado mais um lugar à mesa em todas as refeições (acordo que é honrado até os dias de hoje).
À medida que fui desenvolvendo a personalidade da Capitã Escarlate durante o livro, percebi o quanto essa lenda se encaixaria em algo que ela faria e quis aproveitar a ideia para expor algo que talvez não fique claro no livro, de que em uma guerra não existem heróis verdadeiros, apenas pessoas em lados opostos de um conflito.
O conto faz parte de um universo maior, retratado no seu livro “O Vento Norte”. Qual a relação do conto com o livro?
O Vento Norte é meu segundo romance e se passa em Mirr, um mundo que venho desenvolvendo com amigos nos últimos vinte anos. Em O Vento Norte, nós acompanhamos a história de Colleen Northwind, de sua adolescência rebelde na corte do reino de Aldarian até se tornar a Capitã Rosa Escarlate. O livro se passa ao longo de vários anos e obviamente seria impossível relatar todas as aventuras da personagem. A ideia do conto foi narrar algum episódio que tivesse acontecido entre os momentos chaves do livro como uma forma de mostrar ao leitor quais situações pouco a pouco moldaram o caráter da personagem.
De onde vem seu fascínio por histórias de piratas? Quais são seus autores, filmes, mídias favoritas no assunto?
Quando eu tinha uns oito anos, meu pai começou a montar em sua oficina nos fundos de casa alguns modelos em escala de navios a vela antigos. Eu me lembro de sentar ao lado dele, hipnotizado, vendo ele transformar pedaços de madeira nesses pequenos navios, desde a estrutura do casco até as velas e cordames. Aquilo foi despertando em mim um fascínio por esses veículos construídos a mão e pelas pessoas que os utilizavam para cruzar os oceanos.
Por muito tempo eu mantive aquela visão romântica do pirata como antiherói que cruza os mares em busca de aventuras até conhecer a obra do autor E. San Martin, brasileiro radicado nos EUA que coletou diversos relatos escritos no século XVII, a chamada Era de Ouro da Pirataria, traduziu e adaptou para a linguagem moderna. Foi a partir de seu trabalho que comecei a tomar ciência da vida cruel que qualquer marinheiro na época tinha de suportar e, acreditem, ninguém com um mínimo de bom senso embarcaria em um navio a trabalho a menos que realmente precisasse disso para sobreviver.
Eu busco consumir todo tipo de informação sobre piratas, desde as mais acuradas historicamente (como a própria obra do San Martin) até as versões mais voltadas para a cultura pop, como jogos, literatura de ficção, filmes, etc… Gosto de misturar ambas as vertentes quando escrevo, para criar histórias interessantes, divertidas, mas com algum pé na realidade.
Pode contar um pouco sobre o seu livro, O Vento Norte?
Acho que essa é uma das tarefas mais difíceis para qualquer autor, mas vamos tentar. O livro conta a história de Colleen, jovem e abastada filha do governador de Northwind, cujo desejo sempre foi fugir de sua vida nobre e se aventurar pelo mundo. Porém, seu sonho se vê em risco quando sua nação, seu rei e mesmo sua família correm perigo. Agora, no comando de um navio cheio de marinheiros leais e piratas sanguinários, Colleen se tornará uma corsária, pilhando inimigos e desafiando as misteriosas Águas Sombrias, enquanto busca salvar seu rei.
Tem trabalhado em algo novo que pode descortinar para a gente? Mais piratas?
Depois de O Vento Norte, recebi muitos pedidos de leitores para uma continuação das aventuras da Capitã Escarlate. Venho tentando desenvolver uma ideia para uma nova aventura, mas ainda não encontrei o enredo que gostaria. O que posso adiantar é que provavelmente se passará após os eventos de O Vento Norte e, apesar de estar relacionado a este, quero que seja um livro solo, que possa ser lido de forma independente do primeiro.
Para quem deseja vencer o mar bravio e acompanhar seu trabalho, quais são os caminhos?
O livro infelizmente ainda não alcançou seu objetivo do crowdfunding, que é encontrar uma editora que realize uma edição comercial, mas é possível adquirir sua versão em ebook na Amazon Brasil. Convido os leitores também a curtir a fanpage em fb.com/ventonorte e, para aqueles que quiserem me contatar pelo face, meu perfil é o fb.com/claudiovcosta
Gostaria de finalizar agradecendo por publicar meu conto aqui na Trasgo e dizer que fico muito feliz com a oportunidade de poder compartilhar meu trabalho com outros leitores. Espero que iniciativas como essa continuem a render frutos.