Geraldo de Fraga nasceu no Recife, em fevereiro de 1979, e é formado em jornalismo pela Universidade Católica de Pernambuco. Como escritor, foi colaborador do projeto Recife Assombrado, tendo seus contos publicados em duas antologias. Em 2009, lançou seu primeiro livro: Histórias que nos Sangram, uma coletânea de sete contos inspirados nas lendas e mitos da capital pernambucana.
O que eu mais gostei no seu conto é como todos os personagens parecem vivos, reais, apesar da história não divagar muito no passado deles. Como foi construí-los?
Acho a parte de construção de personagens a mais difícil, porém a mais gratificante. Não é fácil dar personalidades a pessoas que nunca existiram, é um exercício e tanto, mas quando dá certo deixa o autor bem satisfeito. Nesse conto, levei em consideração a condição social de cada um, além de seus status dentro daquela sociedade, daquele universo. Acho que isso foi o que mais influencia em suas personalidades e motivações.
Minha imaginação ambientou Eles Também nos Vigiam num cenário que mescla Dark Fantasy e High Fantasy de uma forma bem natural, o que me deixou bastante imerso no conto. Isso foi intencional? Existe algo planejado para o universo do conto?
Sou escritor de horror. Minhas referências na literatura de fantasia são os autores mais populares, como Tolkien e George R.R. Martin, que apesar de atingirem mais público pelas suas adaptações para cinema e TV são geniais na escrita. Eu queria ver se poderia escrever algo de terror nesse ambiente de fantasia. Eu sempre gosto de ambientar meus contos em épocas passadas e nunca tinha me disposto a esse estilo. No momento ainda não penso em expandir o universo no qual se passa essa trama, mas se surgir alguma idéia boa seria legal retornar a ele.
Conte-me sobre o seu livro Histórias Que Nos Sangram. Como foi ambientar Recife numa atmosfera sobrenatural?
Nas duas últimas décadas, as lendas do Recife viraram um pequeno fenômeno pop. Mas eu notava que faltavam histórias de terror de verdade. O assunto sempre era tratado de forma lúdica, como causos para assustar crianças ou como simples folclore urbano. Resolvi dar uma visão mais séria. Selecionei algumas delas e desenvolvi contos que se entrelaçam a momentos históricos da cidade, como a morte de Zumbi dos Palmares e a Revolução Pernambucana. Foi trabalhoso, mas essa pesquisa enriqueceu muito o livro. A história da cidade tem centenas de casos violentos e esse campo é muito fértil para o horror.
Conte sobre sua experiência com a publicação de Histórias Que Nos Sangram.
Primeiro trabalho lançado é aquela coisa: a maioria dos exemplares foi adquirido por familiares e amigos. A procura pelos fãs do gênero não foi tão grande, mas para um escritor desconhecido até que foi surpreendente. Apesar de a vendagem não representar um número tão significativo, o retorno de boas críticas valeu a pena.
Qual conselho você daria para um escritor iniciante, considerando a realidade brasileira?
Acho que o principal é não criar grandes expectativas com vendas. Não achar que seu trabalho é ruim porque o livro não se esgotou nas prateleiras. Conheço escritores com espaço na mídia que não vivem de literatura, por não ser uma ocupação rentável a ponto de sustentá-los. Quem quiser se lançar como autor tem que fazer porque gosta e sente confiança que seu trabalho merece ser lido. O que não significa dizer que não seja preciso um esforço para divulgar a obra. Isso é primordial.
Quais são suas grandes inspirações? Na literatura e além dela.
Eu cresci lendo histórias em quadrinhos, e continuei quando adulto. Nessa segunda fase, deixei a Marvel e a DC de lado e comecei a ler Alan Moore, Neil Gaiman, Garth Ennis e mais outros que escrevem sobre fantasia e horror. Na literatura, não há como não se influenciar por Lovecraft. Por mais que seja subestimado, Stephen King também produziu obras fantásticas. Mas, curiosamente, um dos autores que mais me influenciaram foi um que não trabalha com o universo fantástico: Rubem Fonseca.
Quer compartilhar algo mais com os leitores da Trasgo?
Quero elogiar o trabalho de vocês e parabenizar os leitores da Trasgo por prestigiar os escritores brasileiros. Tem muita gente boa de verdade por aí, é só dar um pouco de atenção e você não vai se decepcionar.
No que você tem trabalhado e onde podemos te encontrar internet afora?
Estou finalizando uma nova antologia de contos, mas fora do universo regional do meu primeiro livro. Possuo um blog onde posto pequenas histórias, já que não gosto de publicar textos muito longos na internet: infernorama.wordpress.com