Fã e entusiasta da ficção especulativa, especialmente, da ficção científica. Aprendiz de escritora, bloga há cinco anos no Momentum Saga. Geógrafa e professora de geografia de formação, mestra em Ciências, com ênfase em Paleontologia e Bioestratigrafia. Cadete da frota estelar, lutando para as mulheres dominarem o mundo.
“Cão 1 está desaparecido” é um conto solitário, ou podemos esperar mais de Sashi e Becah, seus mechas e políticas duvidosas?
Já existe um conto um pouco maior, falando de Sashi, Becah e de Cão 1, que foi escrito antes de “Cão 1 está desaparecido”. Eu o coloquei na Amazon Brasil para um teste do sistema KDP, mas como tenho intenção de colocá-lo no blog para download, eu pouco divulgo.
De onde surgiu a ideia para o conto e como foi o processo de construção? Foi escrito rápido ou em partes?
Eu o escrevi em um dia, de uma tacada só! Uma determinada editora me convidou para fazer parte de uma coletânea de ficção científica um ano antes e como eu tinha na cabeça o enredo do conto anterior, decidi fazer algo com os mesmos personagens. No fim, a editora deu pra trás, nunca mais deu notícia e o conto foi, felizmente, aproveitado pela Trasgo.
Adorei o clima de tensão com a radiação, pilotos mortos ou semimortos, nanorobôs e, principalmente, a sensação de desolação pós apocalíptica criada no conto (adoro pós apocalipse!) Você fez um trabalho de pesquisa para esse conto? Quais as suas referências nele?
Parece que os apocalípses nucleares andam em baixa ultimamente. Quando comecei a escrever o conto, as cenas do filme “O Exterminador do Futuro: A Salvação”, me vieram na cabeça (eu tinha assistido o filme na mesma semana em que escrevi o conto). Cenários pós apocalípticos também são favoritos meus, acho que é uma desconstrução dos ambientes urbanos que nós temos e ver tudo isso destruído causa um choque nas pessoas. Sempre tive medo de radiação, explosões nucleares (acho que é um efeito colateral de pegar o finalzinho da Guerra Fria), o conto mexe com isso também.
Abrindo um pouco o leque, sei que você é uma grande consumidora de ficção científica. Poderia recomendar algumas de suas obras favoritas?
Ahhh, nossa, tenho tantos livros favoritos. Mas vou listar os cinco que mais me fizeram pensar, me surpreenderam ou emocionaram:
Só a Terra Permanece, de George Stewart – uma distopia incrível, emocionante, onde a raça humana quase foi dizimada por uma doença e os sobreviventes precisam se virar dali em diante. Conta como surgem os mitos, e como um dos sobreviventes reluta em deixar o conhecimento para trás. É maravilhoso.
Fahrenheit 451, de Ray Bradbury – um dos meus livros favoritos, pois é uma contradição intensa sobre livros serem proibidos e queimados. O mais curioso ainda é que Ray admitiu ter escrito F451 em uma biblioteca. É um livro que consegue manter sua crítica atual.
Jogos Vorazes, de Suzanne Collins – acho a trilogia incrível, não apenas por termos uma protagonista feminina, mas pela lógica do sistema imposto pela Capital, de manter os distritos em seus devidos lugares através de jogos sangrentos que são mascarados como festas democráticas.
Ancillary Justice, de Ann Lackie – não sei se vai chegar ao Brasil (espero que sim!), mas o mais incrível da obra é a autora se negar a revelar o gênero de seus personagens. Além disso, ela usa pronomes de tratamento femininos para todos eles. He/him são trocados por she/her. Isso causa um choque de início, mas depois fica sensacional.
Perdido em Marte, de Andy Weir – há muito tempo eu não lia um livro tão divertido. Mesmo estando em Marte, longe de tudo, o protagonista se mantém otimista e usa de soluções científicas para poder se manter no hostil planeta vermelho.
*Nota do Editor: Ancilliary Justice foi anunciado para este ano pela editora Aleph.
Conversamos um pouco no ano passado sobre diversidade na literatura. Como editor, gostaria de publicar mais obras com protagonistas femininas, ou escritas por pessoas de (e sobre) minorias, trazendo outras visões de mundo, que é o grande legado da FC e Fantasia. Por que você imagina que seja difícil encontrar essa variedade na FC?
Acho que não existe apenas um motivo. Temos vários problemas. Um deles é que ficção científica é vista como um gênero literário menor, marginal, infantil. Fantasia acabou ganhando o mesmo viés, como se fossem coisas que somente as crianças leem e adultos, para parecerem adultos cultos, não pudessem ler. Um segundo problema, as editoras tradicionais dificilmente arriscam uma publicação do gênero. Eles acabam relegados a editoras menores, com menor expressividade no mercado. Muitas vezes o vendem como se não fosse FC ou Fantasia. Jogos Vorazes, por exemplo, é um livro YA, mas não é vendido como uma distopia. Se não formamos leitores, não podemos formar escritores destes gêneros. Enquanto o cinema abunda com ficções científica – nem sempre boas – na televisão tivemos uma queda sensível em séries de space opera, por exemplo. Não temos mais na grade as séries de Star Trek, ou Battlestar Galactica. Ou seja, muitas vezes os fãs que consomem são aqueles que já o fazem de longa data. Cativar novos fãs é necessário.
Como podemos ajudar a reverter esse cenário? Digo, revistas, editoras, autoras e leitores?
Acho que faltam textos, análises, resenhas mais sérias do que as que são feitas hoje em dia. Ficção científica, por exemplo, só ganha espaço em revistas de grande circulação se for um autor conhecido ou um livro que virou filme. Sinto falta de revistas em bancas tratando do gênero, sinto falta de editoras lançando obras inéditas – e não fazendo edições de luxo de obras já manjadas – e lançando autores nacionais, que, em geral, publicam por editoras pequenas. Muitos fãs de ficção científica se dignam a ler apenas os clássicos manjados, execrando tudo o que é produzido recentemente. Falta visão para muita gente ainda.
No que você tem trabalhado? O que podemos esperar para o futuro da Lady Sybylla?
Eu trabalho com mil textos ao mesmo tempo. rs Tenho contos e livros pra revisar e colocar pra download no blog. Desisti de procurar editora faz tempo. Então, eu reviso, faço capa, diagramo… Só que isso leva tempo.
Tenho a intenção de colocar no blog o conto do mesmo universo de “Cão 1 está desaparecido”, chamado Cão de Ares. Além disso, tenho um livro pronto, chamado Crise em Centauro, que não é do mesmo universo de Cão 1, mas que carece de revisão. Faço tudo aos poucos, mas prefiro ser lida do que ser (mais) rejeitada por editoras. Recentemente coloquei no blog o conto Mais Um Dia Glorioso em Tau Ceti!
Quais os caminhos para os leitores que buscam conhecer melhor o seu trabalho?
Tem o Momentum Saga, meu blog querido: momentumsaga.com. Estou sempre pelo Twitter @sybylla_ e pela página do blog no Facebook: fb.com/momentum.saga
Organizei a coletânea Universo Desconstruído, de ficção científica feminista (a primeira do Brasil!), junto de Aline Valek, e escrevi o conto Codinome: Electra. Os ebooks são de graça em universodesconstruido.com.
Quem quiser ler meus ebooks, tem também uma página só pra eles. O download é pago com um compartilhamento nas redes sociais! momentumsaga.com/p/ebooks-etc.html
Uma última pergunta: de onde surgiu o pseudônimo?
Como eu sou funcionária pública, meus dados estão disponíveis no diário oficial. Eu não queria essa exposição, então peguei emprestado o nome de uma personagem minha, de um livro no qual trabalho há muito tempo. Só que ela é só Sibila. Quando fui criar a conta no Twitter, tentei várias grafias até chegar a essa aí, toda enfeitada. O Lady veio bem depois, pois um amigo disse que eu era Lady Sybylla, a Imperatriz da Galáxia. Acabou ficando.