Michel Peres é professor, engenheiro, escritor e leitor. Natural de Matozinhos (MG), escreveu poesias que nunca passaram pelo crivo da gaveta e vive a desenvolver a sua mitologia pessoal (divertindo-se bastante com isso). Já publicou na Trasgo e nos sites Leitor Cabuloso e Obvious.
Em Droneboy acompanhamos um garoto tentando se livrar das encrencas em que se meteu fazendo entregas de drone. De onde veio a inspiração para essa história?
A inspiração para essa história surgiu de um bloqueio criativo. Queria escrever um conto dentro desse ambiente biopunk que acho tão bacana, mas não tinha muita noção por onde começar. O que fiz foi juntar duas ideias desconexas: as Fofuras — personagens que eu havia criado em um outro conto (que morreu antes de chegar na praia) — e a entrega por drones.
O maior desafio do protagonista é adentrar a morada das Fofuras. Como surgiu a ideia para esses seres?
Eu queria criar algo como aqueles bandos de adolescentes selvagens que povoam a obra do William Burroughs, seres sem origem, sem leis. Inicialmente, não sabia como iriam aparentar. Até que topei com a obra Minderwertigkinder, dos Irmãos Chapman (sou fã incondicional do trabalho desses caras). Essa foi com certeza a maior fonte de inspiração para modelar essas personagens.
Em seus contos vemos o impacto de tecnologias muito avançadas em sociedades parecidas com a atual. O que te faz escolher essa ambientação de um possível futuro próximo?
A ideia é criar um curto-circuito. Juntar uma realidade próxima da nossa, palpável digamos, e ver o que acontece a ela se uma tecnologia avançada ou estranha for inserida, ver como os personagens, os eventos, a trama se desenvolvem nesse ambiente fechado. Reconhecimento e estranhamento, o leitor pisar e o chão desmoronar.
Tecnologia avançada, modificações corporais e inteligências artificias são elementos cyberpunk que encontramos em suas obras. Quais são suas influências dentro desse estilo?
É algo estranho a princípio, mas, apesar de escrever ficção científica, esse é um gênero que leio pouco. Dos escritores cyber, poderia citar o Greg Bear ou o William Gibson (que com certeza são escritores que admiro). Mas minhas influências — quando penso nessa intermediação entre corpo humano, máquinas, modificações — são mesmo oriundas das artes plásticas: Sterlac, Orlan, Chris Burden, Odd Nerdrum, os Acionistas Vienenses. Esses caras, sim, exercem uma grande influência naquilo que escrevo.
Alguns dizem que, com os avanços da tecnologia, a estética cyberpunk estaria se tornando obsoleta. Qual sua opinião a respeito?
Se observamos as tecnologias atuais, elas são cada vez mais discretas. Estão lá, sabemos que estão lá, mas seu design é pensado para não entrar em choque com o usuário (como a Echo da Amazon ou aquelas antenas de celular camufladas em árvores). Mesmo as tecnologias DIY (que estariam mais próximas do ideário cyberpunk) são, na maioria dos casos, bastante clean.
Já a estética cyberpunk não. Ela sempre foi muito carnavalesca, eu acho. Ela quer se fazer presente, quer chamar a atenção. Mesmo assim, penso que a visão de futuro cyberpunk tende a permanecer. Não como projeto de sociedade (nem os escritores cyberpunk tinham essa pretensão), mas como influência na cultura pop, assim como o próprio punk. Como as pessoas ainda são bastante fascinadas por distopias, acredito que o cyberpunk tende a perdurar mais um tempo.
Há algum projeto futuro que você gostaria de adiantar para os leitores da Trasgo?
Sim. A médio prazo, estou pensando em fazer uma coletânea de contos que já escrevi. A longo prazo, pretendo me dedicar a um romance.
Quais os canais para nossos leitores saberem mais sobre sua obra?
Quem tiver interesse, pode me seguir no Facebook (fb.com/michel.murta.peres) e no Twitter (@MichelMPeres). Tenho um Tumblr pouco usado, mas que pretendo reativar (sandaliasmagneticas.tumblr.com).