Rafael Dias Canhestro tem carreira recente como escritor, com dois contos publicados: “A menina e a banheira”, na antologia Horas Sombrias (Andross), e “Cadáver”, selecionado no concurso promovido pela editora AMCGuedes, e publicado em maio desse ano. Ainda publicou o livro “A casa”, pela editora Multifoco.
Ruínas No Horizonte é um conto pós-apocalíptico muito visual. O que te inspirou a escrevê-lo?
A ideia surgiu da proposta de um concurso literário. O tema era algo sobre cidades lendárias, baseando-se num conto do Lovecraft, não me recordo o nome agora… Então pensei em desenvolver alguma coisa na linha terror/suspense com uma pitada leve de drama. Pensei: por que não fazer diferente? Ao invés de fazer o tradicional (exploradores descobrem ruínas de uma civilização antiga), quis encaixar a narrativa em um cenário moderno seguindo a premissa de que as nossas cidades de agora, todas essas fervilhantes de vida, um dia entrarão num processo de decadência, como toda e qualquer civilização, e haverão novas ruínas na paisagem, que as futuras gerações encararão como restos de um tempo perdido, de uma história findada. Quer dizer… Isso se houver alguém para fazê-lo.
Os dois personagens principais na história encaram destinos terríveis. Se fosse para se colocar no lugar de algum deles, você preferiria ser Alfredo ou Ricardo?
Nenhum deles. (risos)
Pretende expandir o universo de “Ruínas no Horizonte” ou essa foi uma história avulsa?
Faz parte de um universo maior. Tenho um projeto em fase de maturação, que chamo de “Terras Áridas” e que se passa nesse mesmo mundo apocaliptico. As únicas diferenças são geográficas e sociais. De resto…
Quais são suas influências literárias? E o que mais te inspira, além da literatura?
Tenho muito a agradecer ao mestre Stephen King. Ele me fez pegar gosto pela literatura. Ele é um sujeito que domina a técnica narrativa e todas as ferramentas que envolvem o processo. Por mais que queiram diminuí-lo, o cara se vira muito bem e hoje é um dos mais cultuados na cena da literatura de medo. E ele me ensinou uma coisa importante e que levarei para o resto da minha vida: o simples é bom.
Outros autores que posso citar são Charles Bukowski e seu estilo irreverente de escrita, sem papas na língua e de uma poética seca e sem enfeites; Edgar Allan Poe e sua narrativa psicológica (que tem me inspirado em muitos de meus trabalhos); Nelson Rodrigues e sua capacidade de compôr diálogos que soam naturais, além de sua ficção trabalhar temas tabu, algo que me fascina; George Oswell e suas assustadoras distópias; Fernado Pessoa e sua poesia; Céline e seu humor mórbido e que recusa clichês; Clarice Lispector e a sua habilidade ímpar de transformar o banal em algo fantástico; e ainda Fernando Sabino e suas crônicas deliciosas de ler, prova de que literatura se faz do simples e dispensa preciosismos.
Paisagens também me inspiram. O urbano, o selvagem, essas coisas permeiam a minha ficção.
Você possui alguma rotina ou hábito de escrita que queira compartilhar?
Costumo me sentar na frente do computador por umas três horas com um tema em mente e desenvolvê-lo de forma livre. Na medida em que a história ganha corpo, eu a vou direcionando para um desfecho, um significado. Não costumo me martirizar pensando: “Ah, não, está uma merda! Ah, não, é uma ideia estúpida!” Apenas escrevo. Se um sujeito quer ser escritor, ele tem de escrever, mesmo se for para produzir um texto ruim. Faz parte. Como ele vai saber o que funciona ou não, se tem medo de experimentar, ao menos tentar?
Não sei se acrescenta, mas… Tomo copadas e mais copadas de água enquanto crio. Ou é isso ou são as cervejas, e como a grana tá curta… Vai água mesmo!
Nos conte um pouco do seu livro “A Casa” e a experiência de escrevê-lo.
Um livro escrito por um rapaz imaturo. Foi a minha primeira experiência séria com a literatura. Mas foi importante em minha trajetória. Me ensinou algumas lições, como não ter pressa. A verdadeira arte precisa de tempo para desabrochar.
Lendo suas histórias, você acredita que o leitor passa a conhecer um pouco da personalidade do autor?
Talvez. Algo da gente acaba respingando no texto. Eu pego muito do que vivo e levo para a ficção. Mas confiar inteiramente nessa premissa é um perigo. Basta lembrar de Fernando Pessoa. Quantas pessoas haviam dentro daquele único homem? Acredito que pedacinhos do autor estejam espalhados na tessitura narrativa, mas são apenas algumas peças que juntas não completam o que de fato é o homem. Todos nós somos complexos demais para a possibilidade de um entendimento pleno. Como cantava Raul Seixas: “Cada pessoa é um universo.”
Em quais histórias você está trabalhando? O que podemos esperar para o futuro?
Atualmente, tenho me concentrado em concursos literários. Trabalho em uma coletânea de contos que explora a loucura do cotidiano, a modernidade que sufoca o homem. Em breve estará pronta. Já os romances… alguns em andamento, mas todos incompletos. Precisam amadurecer.
Para quem gostou da sua escrita, onde podem te encontrar?
Tenho um blog que não atualizo há uma década: canhestro.blogspot.com.br
Aviso que os contos publicados nessa página carecem de revisão. Fazem parte da primeira leva. São os meus mais antigos esforços literários.
Deseja compartilhar algo mais com os leitores da Trasgo?
Compartilho a minha alegria pela oportunidade de ter um conto publicado na Trasgo. É sempre bom ter o nosso trabalho valorizado.