Entrevista: Roberto de Sousa Causo

foto_robertocauso

Roberto de Sousa Causo é autor dos livros de contos “A Dança das Sombras” (1999) e “A Sombra dos Homens” (2004), dos romances “A Corrida do Rinoceronte” (2006), “Anjo de Dor” (2009) e “Glória Sombria” (2013), e do estudo “Ficção Científica, Fantasia e Horror no Brasil” (2003). Sua novela “O Par” ganhou o 11º Projeto Nascente. Tem contos publicados em onze países.

Quais os maiores desafios para um autor que decide escrever um conto ou romance no gênero cyber?

Acho que é encontrar o ponto de equilíbrio entre a coerência científica e o interesse humano da história. A presença de detalhes específicos é importante nesse tipo de narrativa, e eles têm que fazer sentido para o leitor enquanto ajudam a pintar o quadro do futuro que o autor visualiza. Como esse quadro é uma evolução de características do presente, é importante desenvolver um olhar crítico e extrapolativo da realidade.

Como foi que você decidiu juntar rosas com disparos e explosões?

“Rosas Brancas” foi escrito em resposta ao desafio de Nelson de Oliveira, de aproximar a ficção científica do mainstream literário, nas revistas do seu “Projeto Portal”. Daí o desejo de explorar uma riqueza de imagens e símbolos, associada à propensão da FC para lidar com conceitos e projeções, sem deixar de lado sua tradição de literatura popular (daí a narrativa movimentada com explosões e confrontos). Essa é uma aproximação que a FC internacional já fez em vários momentos — na década de 1950 e de 1980 nas páginas de revistas como “Isaac Asimov’s Magazine” e ” The Magazine of Fantasy and Science Fiction”, que fazem parte da minha formação como leitor. No Brasil, houve aproximações na década de 1970, mas em geral esquecendo o lado popular do gênero. O desafio do Nelson é uma novidade no cenário brasileiro, e já deu frutos, como o trabalho do premiado Brontops Baruq, e, principalmente, o do próprio Nelson, escrevendo como “Luiz Bras”.

Rosas Brancas” se passa no mesmo universo que outros contos seus. O que mais existe para explorar?

Este é o primeiro episódio de uma série de histórias que chamei de “Shiroma, Matadora Ciborgue” – que se cruza com a série “As Lições do Matador”, do meu herói espacial Jonas Peregrino, protagonista do romance “Glória Sombria”. Shiroma é uma trans-humana cooptada ainda criança para ser uma matadora de aluguel, e a série traça como ela alcança sua liberdade. Informações sobre as duas séries estão no site GalAxis: Conflito e Intriga no Século 25 (galaxis.aquart.com.br), uma criação do artista Vagner Vargas.

Você dedicou “Rosas Brancas” ao Philip K. Dick por algum motivo especial?

Meu conto reserva no final uma surpresa como aquelas que Dick favorecia nos seus contos, envolvendo manipulações e inversões de identidade. Depois que o terminei, senti a semelhança e achei interessante homenagear esse escritor americano. Os outros contos de Shiroma são homenagens a autores brasileiros de FC, todos já falecidos.

Você tem um portfólio impressionante de materiais publicados. Com tanto de você espalhado em tantas palavras, dá pra dizer quem é o Roberto Causo e como surgiu o desejo pela escrita?

Eu suponho que dê para fazer um retrato meu a partir dos meus escritos, só não sei se eu seria a pessoa indicada para fornecer esse instantâneo… Como meu interesse pela escrita veio da minha paixão pela leitura, e minhas leituras são variadas, uma coisa que se pode dizer do meu trabalho é que ele também é variado, voltado para diversos gêneros – ficção científica, fantasia, horror, com muitas nuances. Acho que também fica evidente o meu interesse por dilemas morais e éticos, a recorrência de temas militares, e minha abordagem a partir da tradição da literatura popular. Grande parte do meu esforço literário é no sentido de estreitar a relação desses gêneros com a realidade brasileira, e isso também deve transparecer.

Dos romances que você escreveu, qual foi o mais especial e por quê?

Meu favorito, por razões puramente pessoais, é “Anjo de Dor”, um romance de dark fantasy ambientado na cidade onde eu cresci, Sumaré, no interior de São Paulo, e que traz muito das minhas ansiedades da juventude, além de paisagens e pessoas que conheci. Também acho que é uma boa contribuição para uma dark fantasy brasileira, na linha de Stephen King e com um quê de suspense hard-boiled, mas com cor local e situações bem brasileiras, relacionadas à violência e à formação do Brasil do século XXI (apesar da história ser ambientada em 1990, no começo dos anos Collor).

Falando de sci-fi, quem são seus personagens e sagas favoritas?

No Brasil, eu curto o Universo da Tríade, de Jorge Luiz Calife, que ele começou em 1985 com o romance “Padrões de Contato”. Angela Duncan é a protagonista dessa série de romances e histórias. Sou fã da série alemã “Perry Rhodan”, uma space opera de proporções verdadeiramente cósmicas. Gosto muito da Saga de Ender, de Orson Scott Card, cujos quatro primeiros livros tive a honra de editar junto à Devir. Atualmente acompanho com grande interesse o trabalho da inglesa Karen Traviss na sequência de romances “Wess’har Wars”. No cinema, sou fã de Star Wars, especialmente da primeira trilogia (episódios 4, 5 e 6), e tenho muita curiosidade para ver o que James Cameron vai fazer com o universo de Avatar.

Estamos encerrando o primeiro semestre de 2014. E o que vem pela frente, ainda este ano?

Eu tinha esperança de que saísse o segundo romance das Lições do Matador, “Mestre das Marés”, mas acho que vai ficar para 2015. De resto, tenho um conto com Ana Lúcia Merege e Eduardo Kasse na Editora Draco, e mais alguma coisa para sair como eBook por essa editora. Espero que tudo saia até o fim do ano.

Como podemos encontrar suas histórias, sejam organizações de antologias, trabalhos com edição, contos?

Pouca coisa está nas livrarias, em razão das dificuldades que as editoras pequenas e médias, nas quais publico, têm para distribuir seus livros. Há mais chances do meu material ser encontrado na Internet.

Os seguintes livros estão disponíveis na loja da editora Devir (loja.devir.com.br):

Glória Sombria: A Primeira Missão do Matador ; Anjo de Dor; A Corrida do Rinoceronte; A Sombra dos Homens: A Saga de Tajarê Livro I;Duplo Cyberpunk: O Consertador de Bicicletas/Vale-Tudo (com Bruce Sterling); Duplo Fantasia Heroica: O Encontro Fortuito de van Oost e Oludara/A Travessia (com Christopher Kastensmidt); Duplo Fantasia Heroica 2: A Batalha Temerária contra o Capelobo/Encontros de Sangue (com Christopher Kastensmidt); Os Melhores Contos Brasileiros de Ficção Científica (antologia); Os Melhores Contos Brasileiros de Ficção Científica: Fronteiras (antologia); As Melhores Novelas Brasileiras de Ficção Científica (antologia); Rumo à Fantasia (antologia):

Os romances Terra Verde e Selva Brasil, além de outros contos, estão disponíveis pela editora Draco: (editoradraco.com)

Author: Ariel Ayres

Ariel Ayres escreve desde muito novo. Com treze anos terminou seu primeiro livro, "Os Contos de Aesinër", que nunca foi publicado. A sua primeira publicação foi em 2011, com dezesseis anos. Um ano depois, publicou seu segundo romance, e em 2013 seu terceiro, de forma digital. Atualmente trabalha na segunda edição de um livro, "O Quatro", e pretende lançá-lo no final de 2015.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *