Simone Saueressig estreou na Literatura em 1987. Tendo iniciado a publicação de contos de Ficção Científica em fanzines, a autora atualmente conta com mais de trinta trabalhos publicados através de editoras profissionais e de forma independente. Entre seus títulos, vários estão voltados para o gênero da Fantasia, como “A Noite da Grande Magia Branca” (2007), “A Fortaleza de Cristal” (2007), “A Estrela de Iemanjá” (2009), “A Máquina Fantabulástica” (1997), e o livro de contos de terror “O Ninho” (2000). Participou de diferentes antologias, como “Como era gostosa a minha alienígena” (2002) e “Tu, Frankenstein – II” (BesouroBox, 2014).
Em 2010, conquistou o prêmio Livro do Ano – Narrativa Longa, da Associação Gaúcha de Escritores com o romance “ A urum Domini – O ouro das Missões” (Artes e Ofícios Editora). Em 2012, seu romance de Ficção Científica “B9” foi finalista no concurso Argos, promovido pelo Clube de Leitores de Ficção Científica. É autora de “Padrão 20 – A ameaça do Espaço-Tempo” (BesouroBox, 2014) e da saga de Fantasia “Os Sóis da América”.
Também é sua a coletânea de contos de terror baseados em figuras do folclore brasileiro, chamada “Contos do Sul”, publicada independentemente em 2012, também finalista do prêmio Livro do Ano, da Associação Gaúcha de Escritores. Alguns dos seus trabalhos para venda e gratuitos encontram-se à disposição para venda no site porteiradafantasia.com/blog.
“A Linha do Necrotério” traz um rico cenário de fantasia urbana, principalmente nas descrições que acompanham a travessia do ônibus em Porto Alegre. Qual a sua relação com a cidade (e suas linhas de ônibus)?
A linha de ônibus de “A Linha do Necrotério” é, na verdade, uma superposição de cenários: tanto Novo Hamburgo quanto Porto Alegre. Tem partes do conto que foram inspiradas diretamente em experiências pessoais, como a descrição da capital gaúcha nos primeiros parágrafos e o telefone urbano tocando sozinho. Esse episódio, inclusive, aconteceu comigo, enquanto estava em um ônibus certa vez, indo para uma aula noturna. De outra feita, “cruzei” com um dos personagens do conto. O sujeito era assustador.
Gosto muito de Porto Alegre, e viver na capital é uma espécie de “sonho de consumo” para mim. Moro em uma cidade há uns quarenta quilômetros de lá, e frequento os eventos portoalegrenses muito menos do que gostaria. E apesar de ter carro, ando bastante a pé e de trem, além de não ter perdido, jamais, a prática de andar de ônibus, o que me permite deslocar por ruas pelas quais normalmente não passaria, ao mesmo tempo em que posso observar pessoas e lugares.
Como foi criar “A Linha do Necrotério”? Como geralmente é seu processo de criação? Você é uma escritora mais disciplinada ou menos?
Disciplina, disciplina… onde foi, mesmo, que ouvi essa palavra? Hehehe, na verdade eu tento ser o mais disciplinada que o cotidiano permite. Mas isso não é dizer muito. Estou tentando resgatar o meu processo de criação. Há alguns anos ele passava por uma livre imaginação da história, antes de começar a ser posto no papel. Assim, mesmo não tendo imaginado o final da narrativa, normalmente eu tinha uma ideia de sobe o quê e como ia escrever. Com o passar do tempo isso se perdeu um pouco. Já “A Linha do Necrotério” nasceu, primeiro, da cena do telefone público tocando sozinho. Aquela foi a semente. Depois veio a ideia de colocar todos as assombrações tradicionais no mesmo elemento, o ônibus. Quem anda em linha noturna sabe que tem um pessoal meio sinistro circulando nelas.
Tenho a impressão de ver a fantasia (urbana ou não) crescendo no Brasil, com obras que misturam o cotidiano ao sobrenatural ganhando cada vez mais exemplares. Poderia nos recomendar alguns autores nacionais que você acha interessante conhecer?
Sim, eu acho que é um gênero em franca expansão. Até porque a Literatura Brasileira sempre sofreu de uma sisudez acadêmica que fechava o caminho daquele texto que não tem pretensão maior do que a de divertir o leitor – a tal da “literatura de entretenimento”. Felizmente, isso está mudando. Temos um autor simplesmente imperdível: José Francisco Botelho, autor de “A árvore que falava aramaico”, editado pela Zouk Editora. A literatura dele é sensacional, unindo um texto impecável, capaz de agradar à qualquer crítico, e ideias fantásticas. “A árvore que falava aramaico” é um livro de contos dividido em duas partes. É na segunda, “Grimório”, que estão os relatos Fantásticos, e todos são incrivelmente bons. Também gosto do trabalho da Giulia Moon e do Rober Pinheiro, ambos de São Paulo. Mas tem muito mais gente nessa área, gente muito boa. É ler para crer.
Você tem uma extensa produção infantil e infanto-juvenil, e algumas obras para o público adulto. O que se sente mais à vontade escrevendo?
Infanto-juvenil, sem a menor sombra de dúvida. É onde eu me sinto realmente à vontade. Já o texto adulto, para mim, é mais desafiante. Eu, francamente, acho difícil.
O que pode nos contar de sua obra mais recente, “Menos do que um troco”, editado pela Artes e Ofícios Editora?
É um livro do qual gosto muito. Conta a história de um garoto que encontra na informática uma saída para o seu cotidiano limitado e violento. Mas também oferece ao leitor um questionamento ético afinado com a realidade de nossos dias. O que não deixa de ser surpreendente, porque o original foi escrito há uns quatro anos. É incrível ver que o tempo passa, mas os questionamentos da sociedade brasileira seguem exatamente pelos mesmos problemas e que nós, enquanto sociedade política, passamos por vexames sempre iguais.
Pode nos adiantar algo que esteja trabalhando ou para sair?
No momento, estou finalizando uma segunda aventura para Maria do Céu e Shiaka, os protagonistas de “Padrão 20”, editado pela Besouro Box. E tem umas outras coisinhas também, mas não sou muito de falar sobre o que ainda não se concretizou. É a única superstição que tenho. Isso, e colocar chapéu em cima da cama. Não coloco, nunca!
Para quem gostou de “A Linha do Necrotério”, quais obras suas você recomenda? Onde podemos encontrar mais informações e acompanhar seu trabalho?
Eu tenho alguns contos com a editora Buriti, como “O Caçador”, que saiu na coletânea “Caçadores de Bruxas”, e “Caça-fantasmas”, na coletânea “Caçadores de Fantasmas”. Ambos são contos de fantasia em cenários urbanos, e o segundo, inclusive, tem um pouco de humor, o que nunca é muito fácil de fazer. Já para quem quiser conhecer um pouco da Biblioteca Pública do Estado do Rio Grande do Sul, sugiro “O Pianista”, que saiu na coletânea “Tu, Frankenstein – II”, editado pela Besouro Box, com a presença de autores realmente muito bons, tanto nacionais quanto internacionais. E para quem prefere um texto mais de época, “O Orquidófilo”, que saiu na coletânea “Vampiros”, publicado pela Avec Editora. Divirtam-se!
Também mantenho dois blogues: porteiradafantasia.wordpress.com, dedicado à Crônica, e o ossoisdaamerica.wordpress.com, dedicado às notícias e novidades sobre a saga “Os Sóis da América”.