Falas na Sala

PublicidadeLeia agora um trecho patrocinado do Ateliê de criação literária: prosa & verso, teoria & exercícios.

Atelie de Criação Literária

Uns textos deste livro foram planejados para um ateliê de criação literária. Outros nasceram durante o ateliê, a partir das dúvidas mais frequentes dos atelienses. Há ainda os que migraram da sala de aula para a imprensa.

Todos os textos surgiram na forma bastante livre de anotações e rascunhos: um apoio-partitura para a fala. Isso explica a predominância do registro coloquial.

Este livrinho não é apenas um manual para meu uso pessoal, é também um ateliê ambulante. Um programa que, descolado de mim, pode ser levado aos pontos mais distantes da Terra Brasilis.

Mesmo onde não existir ainda uma instituição, mas houver pessoas interessadas em aperfeiçoar a prática literária, um grupo poderá ser formado.

Os exercícios propostos aqui podem ser feitos por diletantes de qualquer lugar, que poderão eleger entre si um coordenador.

Os exercícios podem ser os mesmos, mas jamais haverá dois ateliês parecidos se o coordenador for diferente. A multiplicidade de temperamentos e estilos não permitiria.

Existe o coordenador rock, o samba, o jazz, o erudito… Até mesmo o punk, que bota pra quebrar sem dó nem ré nem mi. Essa é uma parte importante da beleza do processo.

Há quinze anos coordeno laboratórios, oficinas e ateliês de criação literária para escritores com obra ainda em formação, em várias instituições. É um ritual, uma festa.

Os mais recentes aconteceram na Casa Mário de Andrade, na Casa das Rosas, no Espaço Cultural Terracota, na Academia Internacional de Cinema, na Livraria da Vila, no Centro Cultural b_arco e na editora Ofício das Palavras, todos em São Paulo; nos Sescs Belenzinho, Pinheiros e Santo André (SP), Florianópolis e Joinville (SC), Cuiabá (MA) e Recife (PE); na Fundação Cultural de Curitiba (PR), na Estação das Letras (RJ) e na Fundação Cultural do Estado da Bahia (BA).

Essa experiência rica em intersecções poéticas está dialeticamente mesclada à minha vivência criativa. Então, não há dúvida de que acredito demais no poder formador dos laboratórios, oficinas e ateliês de criação literária há bastante tempo.

Minha carreira teve início vinte e cinco anos atrás, numa oficina de criação literária coordenada pelo escritor João Silvério Trevisan, nas saudosas Oficinas Culturais Três Rios.

O ritual-festa me pegou. Recém-graduado em artes plásticas, foi nessa oficina que decidi abraçar fortemente a literatura.

Então, surgiram as questões fundamentais.

Talento se ensina? É possível ensinar alguém a escrever uma obra-prima? Acredito que não. Mas é possível ensinar alguém a não escrever mal. Por meio de toques, apontamentos, discussões inflamadas. Por meio da troca de impressões e das mais variadas dicas literárias, musicais, teatrais, audiovisuais.

 

Quem não quiser escrever mal, quem quiser ajudar outros escritores a não escrever mal, deve primeiro evitar a leitura descompromissada. Deve obrigar a intuição a casar com a razão. Deve saber ler e se expressar com critério: como crítico, não como parente, namorado ou amigo de infância. Deve escrever apaixonadamente, ler apaixonadamente, discutir apaixonadamente. Mas sempre de maneira compromissada. Ao ler o trabalho dos colegas, deve apontar os vícios e os exageros. Os lugares comuns. Deve tentar espantar o mau gosto, o kitsch, o melodrama. Deve sugerir alternativas e indicar caminhos. Recomendar leituras.

(A oficina do escritor, de Nelson de Oliveira)

O pior inimigo do escritor em início de carreira é o lugar comum. Esse é o pior inimigo de qualquer artista, seja ele dramaturgo, cineasta, pintor, compositor…

É preciso estar atento às armadilhas-ilusões de nossa secular sociedade do entretenimento. Pra vencer o demônio do clichê é recomendado o ritual dinâmico da reflexão, também chamado de filosofia.

Desconfie do muito fácil, do conhecimento domesticado. Estudar também os grandes filósofos é fundamental.

O talento para a expressão literária, em prosa ou verso, não é uma benção que as estrelas despejam sobre determinadas sensibilidades, ao sabor do acaso. É uma capacidade conquistada com muito esforço e paciência.

Até mesmo o senso comum parece já ter assimilado esse fato, apesar de muita gente ainda cultivar (inconscientemente) a noção romântica de gênio e inspiração.

Também não é novidade que o aperfeiçoamento do talento literário ocorre mediante duas atividades fundamentais, que se complementam: leitura crítica e escritura disciplinada.

Um laboratório, uma oficina ou um ateliê de criação literária − o nome não importa muito − funda-se na prática constante dessas duas atividades − leitura crítica e escritura disciplinada −, a partir dos mais diferentes estímulos. Seu propósito é o aprimoramento individual da expressão literária, seu método é a produção regular de ficções e poemas somada ao debate imediato em torno dos textos criados em sala de aula ou em casa.

Escritores diletantes, com obra ainda em formação, sofrem principalmente com a falta de leitores cuidadosos, que opinem sobre seus escritos. Para quem escreve em prosa ou verso, não existe realização literária sem a figura do leitor. A dinâmica do ateliê vem justamente suprir de leitores o escritor diletante.

Nesse grupo de leitores cuidadosos está a figura central em qualquer curso de criação literária: o coordenador (um leitor-escritor experiente, de reconhecido talento).

Se as regras da maioria dos laboratórios, oficinas e ateliês são bastante semelhantes, o que muda, o que faz toda a diferença é o método e o temperamento do coordenador, sua sabedoria selvagem.

Mais uma evidência de que a criação literária não é uma ciência exata: jamais haverá dois cursos parecidos se o coordenador não for o mesmo. Repito: a multiplicidade de temperamentos e estilos não permitiria.


Adquira o livro Ateliê de criação literária: prosa & verso, teoria & exercícios em amazon.com.br/dp/B00TOY7GBO

Author: Luiz Bras

Luiz Brasil nasceu em 1968, em Cobra Norato, pequena cidade da mítica Terra Brasilis. É ficcionista e coordenador de laboratórios de criação literária. Na infância ouvia vozes misteriosas que lhe contavam histórias secretas. Só acredita em biografias imaginárias. E nos universos paralelos de Remedios Varo. Dos livros que publicou destacam-se "Distrito federal" (rapsódia, 2014) e "Sozinho no deserto extremo" (romance, 2012). E o novíssimo "Ateliê de criação literária" (eBook Amazon, 2015)

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *