Depois de um longo hiato, hoje voltamos a publicar contos na Trasgo, com um novo formato: em vez de edições trimestrais com seis histórias, agora cada conto é publicado individualmente, com capa e edição própria, quinzenalmente.
Muita coisa aconteceu nestes meses em que tentávamos lançar as últimas edições da Trasgo. A 18 saiu a muito custo, o que seria a edição 19 vem sido trabalhada há quase um ano, se contarmos a avaliação dos contos. O novo formato é uma tentativa de desamarrar as edições. No anterior, qualquer informação faltante enroscava. Não tinha a biografia da ilustradora? Faltou a entrevista de uma das autoras? Uma das revisões? O processo parava.
Claro que isso sempre aconteceu e conseguíamos contornar, mas nos últimos meses nasceu meu segundo filho e não consegui conciliar trabalho, paternidade e Trasgo; e no mesmo período o restante da equipe também passou por fases complicadas. Em dias assim, a gente simplesmente não tem cabeça para chegar do trabalho e sentar no computador para mandar e-mail cobrando isso e aquilo.
Esse afastamento me fez refletir bastante sobre esta revista. A Trasgo ainda é relevante no cenário brasileiro de ficção especulativa? Ela um dia foi? O que conseguimos conquistar, quais foram os erros?
O cenário hoje é um pouco diferente do que quando começamos. Não havia praticamente nenhuma revista de contos de FFC ativa lá em 2013, quando trabalhávamos na primeira edição. Hoje temos a Mafagafo firme e forte, que até deu cria para a Faísca, além de outras publicações que surgiram. No entanto, a maioria foi descontinuada. É fácil criar uma revista de ficção especulativa, difícil é mantê-la.
E também me pergunto se vale o trabalho (muito trabalho). Se todo mundo percebe rápido que esse não é um negócio viável e fecha logo as portas, e eu sou o único aqui dando com a cabeça no muro para continuar. Jájá falaremos da parte financeira, e talvez você concorde comigo.
A pedra no meu sapato sempre foi o fato de termos criado um público cativo entre autoras de ficção especulativa, mas nunca chegamos de verdade no público leitor. Em quem só gosta de ler uma boa ficção, mas sem pretensão de escrever. Na verdade debate-se se existe no Brasil este público, ou se somos todos leitores-autores.
Enquanto estávamos sem publicar, recebi uns dez emails perguntando quando abriríamos submissão novamente. E ZERO e-mails de quando voltaríamos a publicar. Todo mundo quer publicar, ninguém quer ler. (A propósito, estamos sim recebendo contos! \o/)
No meio do redemoinho deparei com um artigo do Daniel Lameira sobre como as editoras pouco fizeram para dialogar com o público leitor no Brasil. Foi quando a ficha começou a cair, mas pensando num outro lado: a necessidade de se construir esse público leitor.
Porque não é todo mundo que vai ter um e-reader, ou que está afim de ler no celular com tanto canal de Youtube para assistir. Num desabafo no Slack interno da Trasgo eu me dei conta de que nessa ânsia de ser online, digital, talvez eu não esteja chegando onde eu quero chegar. O país está virando uma distopia. A gente precisa começar a usar a fantasia e a ficção científica como semente para plantar mais empatia nessa geração mais nova.
Então, a grande novidade:
A Trasgo agora é impressa!
O e-book, as edições online continuam importantes e gratuitas. Mas a Trasgo agora vai ser em papel. O PDF que você baixa aqui no site vai estar pronto para imprimir e distribuir por aí. A princípio estamos estudando dois formatos:
– Zineconto, com um único conto, A5, impresso em jato de tinta e grampeado. A ideia é ser meio barato, mas com a capinha colorida para chamar a atenção (e valorizar as ótimas ilustrações que temos), distribuir por aí, entregar na mão de adolescente para ler e espalhar na escola.
– Edição trimestral impressa, mais ou menos do formato que vocês estão acostumados, com seis contos, no formato livro. Essas edições seguem a numeração da Trasgo, começando pela 19.
Ainda estamos estudando custos e viabilidade disso tudo, mas a ideia é tentar tocar isso este ano. Ah, e para vender papel, também temos uma lojinha. A ideia é vender cursos também, e talvez outras coisinhas. Veremos. ;)
Chega de falar de coisa boa, deixa eu baixar a bola um pouquinho.
A Trasgo vai mal financeiramente
Puxa, já estamos na estrada faz cinco anos. E sempre olhei a Trasgo como uma empresa, tentando levar isso aqui como um negócio, com meta até de tirar sustento dessa masmorra. E talvez essa minha visão de “profissional” tenha atrapalhado um pouco na hora de inovar, experimentar formatos, fazer diferente. Não é copiando as revistas americanas que eu vou parecer profissional.
Mas, dinheiro. Hoje a Trasgo fixou o valor de R$150 por conto, mais $50 para ilustração e edição, isso dá mais de 500 reais por mês, sem contar hospedagem do site e outros gastos aqui e ali. No momento em que escrevo estas palavras a arrecadação da Trasgo está em R$412, sem contar a taxa do Padrim.
Ou seja, estamos no prejuízo.
Nós temos algum dinheiro guardado do tempo em que os apoiadores se mantiveram firme e fortes, mesmo sem publicação. Mas decidimos queimar boa parte do dinheiro dando a próxima edição impressa aos padrinhos e madrinhas que continuaram com o apoio nos tempos difíceis. Foram eles que me fizeram ver que PRECISÁVAMOS voltar a publicar.
Os cursos e leituras críticas que eram destaque do Padrim da Trasgo serão migrados para produtos da loja. E também, reformulamos todas as recompensas do Padrim, agora mais voltado para quem lê do que escreve. A destacar:
– Podemos mandar a Trasgo diretamente para o seu Kindle
– Trasgo impresa com frete grátis! \o/
– Desconto permanente na loja da Trasgo, válido para todos os itens!
Por isso, aqui vai um apelo: apoie a Trasgo no Padrim. Dependemos do seu apoio, e cada um real conta muito, de verdade. Se você já nos apoiou antes, a hora de voltar é agora! Temos muita coisa bacana para os próximos meses.
O melhor lugar para ficar por dentro de tudo o que acontece na Trasgo é a Newsletter.
A Trasgo não existiria sem vocês. E é com muito orgulho que eu vejo que a Trasgo foi a primeira casa de tanta gente que está crescendo na carreira literária. Já estamos fazendo muito por escritoras, agora vamos com tudo atrás da nova geração de leitoras.
Muito obrigado, e conto com você ao meu lado nesta astronave.
♪ E o futuro é uma astronave que tentamos pilotar. Não tem tempo, nem piedade… ♪
Vamos juntos?
Um grande abraço,
Rodrigo van Kampen
PS: Padrim. Apoia. Vai lá. ;)
Rodrigo, vida longa à revista Trasgo! Pode ter certeza que ajudarei não apenas finamceiramente como na divulgação e distribuição aos meus alunos e outros leitores do meu ciclo. Saiba que a Trasgo é um pilar e muito importante para a FC e a fantasia nacional. Conte comigo!
Olá, Paulo! Obrigado pelo apoio! <3
Eu acho absolutamente maravilhoso a ideia de fazer a Trasgo impressa, e podem contar com meu apoio!
Eu sempre senti falta de público leitor, não só na Trasgo, mas basicamente em todos esses veículos mais alternativos e independentes de literatura, e isso é um problema sério. É bom ver que se está lutando pra mudar isso.
Tenho uma pergunta/sugestão: vocês pensaram em algum plano de ação pra alcançar bibliotecas estaduais e comunitárias? Já trabalhei em Biblio comunitária e vocês teriam MUITOS leitores jovens se enviassem esse material pra eles. Tenho contato com a rede de biblios comunitárias em Pernambuco, que devem ter contato com as de outros estados. Se a ideia é popularizar essa leitura, então as bibliotecas populares precisam ser consideradas nesse plano!
Eu, por exemplo, estaria disposta a apadrinhar uma Biblio comunitária pra eles receberem o material de vocês. Será que não teria outras formas de estimular isso tbm, de forma economicamente viável pra vcs?
Food for thought.
Olá, Iana!
Então, eu gostaria MUITO de conseguir mandar os livros da Trasgo para bibliotecas comunitárias e também municipais, mas o dinheiro não deixa.
O que FIZEMOS foi fazer uma categoria especial do Padrim, chamada “Professor da Trasgo”, que recebe 8 cópias de cada Zineconto que lançarmos. A ideia é ser uma categoria para professores, empresas e instituições. Ainda não tenho exatamente o custo de cada zine, mas nesta categoria vai sair a preço de custo mesmo. Então, se eu conseguir imprimir o zine por menos, aumento a quantidade. Está lá no Padrim, que é onde centralizamos a arrecadação da Trasgo. ;)
Outra ideia que também pode funcionar é que o PDF que dá para baixar no site da Trasgo é exatamente o mesmo que eu uso para imprimir os zines. Você, ou quem mais quiser, também pode imprimir em casa e levar os zines até as bibliotecas, seria lindo. Seja o que decidir, depois conta para gente fazer um post para incentivar mais gente a fazer o mesmo!
Grande abraço!
Rodrigo
Fala Rodrigo, tranquilo?
Já passei por problemas parecidos. Tentei durante muitos anos manter o Universo Insônia em pé, levando paralelamente com o trabalho, mas chega uma hora que fica difícil. Tenho planos de voltar com ele, resgatar o espírito de antigamente (quando criei), que era falar de cultura fantástica nacional, mas ainda não tive tempo de me organizar.
Mesmo com grandes projetos que me envolvi por conta do site (como a organização do Fantasticon e do Concurso Hydra de Literatura Fantástica), não consegui seguir com o projeto da forma que queria.
Mas não desista não, a Trasgo é um projeto muito bacana e merece continuar de pé. Tentarei ajudar da forma que conseguir, seja divulgando ou colaborando.
Parabéns pelo trabalho até aqui.
Abraços!
Olá, Tiago! Puxa, obrigado pela mensagem e pelo apoio! A FFC nacional precisa de você tanto quanto de nós! ;)