Tradução de Anna Martino
Passou de branco, preto é. Não existe este negócio de mulato.
Mulato pra mim é cor de mula.
— Tim Maia
Dizem que nasci na cinza das horas
o momento
em que o sol corta os pulsos
no céu quase fusco
e teve quem chorasse abertamente
ao ver cor recém-parida. Mas seria o espectro
parido? Ou é partido pelas teimosas
e desobedientes fileiras de prismas
que se recusam e se unem ao festim
da antropofagia.
Engolindo o que fosse de engolir
Ou ao menos o que viesse em seguida
pendendo sob seus narizes. Conheço
bem esse jogo. Depois cruzei
muitas léguas com uma mão
enorme prometendo
firmemente a sapiência do corcel
e a força da mula, mas posto do avesso,
meu amo não nota a diferença. De fato,
pondero
a validade da cor, o destino de um
Negro
Orfeu. Que canção existe para
meu retorno? Que mapa é feito pel’O Cavalo Morto?
Olho para as estrelas no aguardo
de respostas, mas tudo que vejo é a ausência de cor