Cor de Mula

Tradução de Anna Martino

Passou de branco, preto é. Não existe este negócio de mulato.
Mulato pra mim é cor de mula.
— Tim Maia

 

Dizem que nasci na cinza das horas

                              o momento

em que o sol corta os pulsos

no céu quase fusco

 

e teve quem chorasse abertamente

ao ver cor recém-parida. Mas seria o espectro

parido? Ou é partido pelas teimosas

e desobedientes fileiras de prismas

 

que se recusam e se unem ao festim

da antropofagia.

    Engolindo o que fosse de engolir

Ou ao menos o que viesse em seguida

 

pendendo sob seus narizes. Conheço

bem esse jogo. Depois cruzei

muitas léguas com uma mão

                 enorme prometendo

 

firmemente a sapiência do corcel

e a força da mula, mas posto do avesso,

meu amo não nota a diferença. De fato,

pondero

a validade da cor, o destino de um

Negro

 

Orfeu. Que canção existe para

meu retorno? Que mapa é feito pel’O Cavalo Morto?

Olho para as estrelas no aguardo

de respostas, mas tudo que vejo é a ausência de cor

Author: Woody Dismukes

Woody Dismukes é americano-brasileiro, poeta, autor e músico. Mora em Nova York, é graduado pela Clarion West (2018) e foi professor na University Settlement’s Creative Center. Já foi publicado pela Lightspeed, Apex, Strange Horizons, entre outras.

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