Alaor Rocha nasceu em São Paulo e herdou a ansiedade e a bronquite asmática da capital. Atualmente mora em Goiânia, onde cursa Design Gráfico e ouve sertanejo involuntariamente. Publicou os ebooks “Mulheres, sereias e aliens” e “Vênus acena de volta” na Amazon, além de participar das antologias “Equinócios de amor” (Editora Alcantis) e “O segredo da crisálida — Volume II” (Editora Andross).
"Cirro" é um conto numa temática muito específica. De onde surgiu essa ideia?
Foi uma construção bem lenta. Tive a ideia geral de alguém que transcende limites espaço-temporais para trazer um amor de volta à vida há um bom tempo, talvez ano passado ou retrasado. Inicialmente, ela seria um pouco mais introspectiva e se demoraria mais no dia a dia do protagonista (que até então era um homem), mas senti que a história se beneficiaria bem mais de uma visão abrangente, com todas as questões sociais, morais e históricas envolvidas.
A escrita do conto exigiu algum tipo de pesquisa histórica, ou utilizou-se de pesquisa para ficar mais rica? Ou você diria que apenas a temática bastou para desenrolar a história?
Muita pesquisa. Sinceramente não me lembro de quando decidi que a história seria lá pros anos 50 (e não algo contemporâneo), mas a partir daí tive que ir atrás do panorama tecnológico e cultural da época para conseguir escrever. Fico sempre com um pouco de medo da escrita parecer engessada na hora de colocar referências temporais (como se eu estivesse colando algo lá só para contextualizar o leitor), então tive que me interessar bastante pelo pós-Segunda Guerra para que, principalmente, os diálogos não ficassem artificiais.
A ficção científica é usada no conto para contrapor ciência e moralidade. Esse tipo de reflexão parece ter voltado aos holofotes ultimamente. Como você avalia os atos de Niang?
Não sei se cabe a mim avaliá-la: ela já está ciente dessa reflexão. Ela sabe que seus atos são imorais e anticientíficos — mesmo porque as ideias de moral e ciência só funcionam propriamente em um senso de coletivo, o que não existe em seu isolamento. Estar longe de tudo e de todos pode até mesmo ser uma maneira de Niang se eximir da culpa, ou pelo menos não pensar muito nela. No fim das contas, é interessante pensar em como o desejo de transcender vida e morte vem se manifestando de maneiras quase inconcebíveis diante do que conhecemos de poucos anos atrás — dois exemplos rápidos e rudimentares: o uso de hologramas de artistas em festivais e a recriação gráfica de atores em filmes. Estudar as implicações éticas disso é um desafio antropológico, científico e até mesmo jurídico. E só tende a piorar.
Quais autoras mais te influenciam na escrita? Alguma favorita?
Minha favorita absoluta é nossa Lygia Fagundes Telles, maravilhosíssima tanto em prosa mais curta quanto em romances. “A noite escura e mais eu” é um dos meus livros de cabeceira (saudades, inclusive). Outra influência gigantesca é a Annie Proulx, em especial seu livro “Curto alcance”. Digo com prazer que demorei meses para terminá-lo, porque vale a pena ler com toda a calma do mundo.
E o que te inspirou a começar a escrever?
Gibis. Muitos gibis. Cara, algumas histórias da Disney são muito mais complicadas do que parecem.
Existe algo que queira compartilhar com os leitores da Trasgo? Nos diga onde te encontrar no mundo virtual e no que você está trabalhando no momento.
Bem, quero agradecer à própria Trasgo pelo espaço cedido e o carinho com a qualidade da revista. Acompanho a revista há algumas edições e tô imensamente feliz de fazer parte de algo tão profissional e bem elaborado. Além disso, você aí que chegou ao fim dessa entrevista: parabéns pela paciência comigo e essas minhas respostas terríveis (mas é sério, a vida do Tio Patinhas é uma história incrível). Espero que tenha gostado de "Cirro", todo feedback é muito bem-vindo!
Quem quiser me encontrar por aí, estou no Medium (medium.com/@alalarocha) contando potocas, no Pêssega d’Oro (pessegadoro.com) dando pitacos, no Twitter (@alalarocha) sendo mal-educado, na Amazon () vendendo meus livros e geralmente com a porta de casa aberta para quem quiser trazer cerveja. Esse ano tem sido bem cheio no quesito acadêmico, mas estou desenvolvendo um projeto infanto-juvenil com alguns amigos que pretende ganhar vida ainda em 2017. Até lá (e enquanto a faculdade não me deixar escrever mais do que um parágrafo por semana), quem sabe eu não apareço aqui na Trasgo em breve? Um abraço, gente!