Entrevista: Caroline Policarpo Veloso

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Caroline Policarpo Veloso publicou o livro de poemas Palavras Andarilhas (Editora Penalux) no início de 2015. Gosta muito de relógios, mapas e calendários, embora relute em confiar neles. Participou de algumas coletâneas, entre elas Poderes (Darda), King Edgar Hotel, Utopia, Sonhos Lúcidos e Ponto Reverso (Andross). Já publicou na Trasgo, na edição número 3. Não é verdade que tenha um dragão imaginário de estimação.

“Essa é a nossa história. Você vai adorar” é um conto fantástico um tanto sombrio. De onde surgiu a ideia para escrevê-lo?

A ideia de personagens ganhando vida aconteceu primeiro, o restante do conto foi se construindo para dar sentido ao final. Penso bastante na relação entre realidade e ficção, é algo que estou tentando entender e explorar. No conto, a realidade pode virar ficção, a ficção pode ser muito real, as fronteiras se perdem. Mas será que precisa mesmo de magia pra isso? Eu acho que não.

Eu não pude deixar de imaginar o destino do escritor da sua história e pensar nas minhas próprias personagens. Se fosse você no lugar do escritor, acha que suas personagens teriam motivo para vingança? (O escritor com certeza teria, mas e as outras, de outras histórias?)

O objetivo da pergunta era me assustar? Ah, tenho que admitir que algumas teriam, sim. Mas por que não pensar nas que teriam motivos para gostar de mim? Se todas as minhas personagens existissem (ou se eu fosse tragada para dentro de um conto), eu ficaria feliz em ganhar algumas amizades — isso, é claro, se escapasse das personagens que não vão querer ser minhas amigas.

É sua segunda aparição aqui na Trasgo. “Essa é nossa história…” possui uma atmosfera muito diferente de “Feita de um Sonho”, seu conto que publicamos na Trasgo 03, embora ambas histórias sejam de fantasia. O que você sente que mudou na sua escrita desde que publicou um conto com a gente da última vez?

Tanta coisa! Esses quase dois anos parecem um infinito. Encaro a literatura de forma completamente diferente agora. Ainda estou me descobrindo, testando caminhos, mas tenho uma ideia mais clara — e mais realista — do que quero alcançar com a escrita.

Qual o seu processo de escrita? Possui alguma rotina?

Gosto de escrever de manhã ou à noite, mas não é exatamente uma rotina. Não tenho o hábito de escrever todos os dias. Quando estou em uma história longa, tento arranjar tempo para ela e exigir compromisso de mim mesma, mas nem sempre funciona. Não sou organizada o suficiente.

Já sabemos que você gosta de Clarice Lispector, Marian Keyes, Douglas Adams, J. K. Rowling e Carlos Ruiz Záfon. Nestes últimos tempos leu algum outro autor que te impressionou e influenciou sua escrita?

Com certeza! Comecei a ler mais Neil Gaiman, conheci Cesar Aira, Anne Enright, Muriel Barbery. Leio mais poesia contemporânea, poderia citar Angélica Freitas, Geruza Zelnys, Ana Martins Marques, e parar por aqui para não estender muito a lista. Diria que são leituras que tocam, atingem, às vezes tiram o chão, e por isso são transformadoras.

Você publicou um livro de poesias ano passado. Qual a diferença no seu processo entre a escrita da poesia e a escrita de um conto?

Um poema quase sempre acontece de uma vez, ainda que esse “de uma vez” seja o acúmulo de muitos fragmentos que demoraram a tomar forma, de muitas tentativas fracassadas. Um conto pode demorar semanas ou meses para ser escrito e geralmente precisa de mais ajustes no rascunho do que um poema. Pra mim, quanto mais longo o texto, maior a dificuldade em fazer com que tudo se encaixe bem. Não significa que eu ache mais fácil escrever poesia, mas o esforço envolvido é diferente.

Da última vez que você esteve com a gente, comentou sobre um romance juvenil chamado “Hírons”. Como ficou essa história?

Ficou… no pen drive. Algumas coisas aconteceram, outras não aconteceram, e acho que Hírons vai continuar no pen drive mesmo.

No que mais anda trabalhando? Nos conte as novidades.

Em breve pretendo apresentar a “Inventada”, uma não-humana habitante de um mundo chamado Fictício que se cansou de percorrer as longas estradas de Fantasia, perder-se nas confusas ruas de Comédia e passar noites nos assustadores castelos de Horror. Inventada encontrou o caminho para um lendário mundo chamado Real, achando que lá sua vida seria cômoda e fácil. Será que estava certa?

Quem gostar das suas palavras pode te procurar onde?

Tenho alguns poemas na Revista Subversa, que pode ser acessada em canalsubversa.com. No mês passado saiu na coletânea “Poderes” (Darda) um conto chamado “Sobrevivências”, sobre uma mulher que precisa arriscar a vida todos os dias para sobreviver, mesmo que isso signifique ferir a si mesma. No fim de 2015 publiquei no projeto “O Corvo – um livro colaborativo”, uma ideia bacana da Empíreo em homenagem ao poema de Edgar Allan Poe, o texto “O ponto de vista do Corvo”. Como o título sugere, conto o que o pobre corvo de nome Nunca Mais achou da situação relatada por Poe. Quem quiser pode me acompanhar no Facebook para saber de novidades: fb.com/Carol.policarpo.veloso

Última pergunta: como é voltar para a Trasgo depois de algum tempo?

É um prazer ainda maior do que estar aqui pela primeira vez. Conheço mais a Trasgo, vi a revista acontecendo, crescendo. Estou em um momento diferente da vida, tenho uma relação diferente com a escrita, enfim… Nunca se volta exatamente ao mesmo lugar.

Author: Enrico Tuosto

Enrico Tuosto é escritor, revisor da Trasgo e rockstar fracassado. Também cuida das redes sociais e da newsletter da revista, mas o que ele gosta mesmo de fazer é jogar RPG. enricotuosto.tumblr.com/writing

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