Isso é um adeus?

A Trasgo vai entrar em um hiato sem previsão para voltar. Também encerramos nosso Padrim, tiramos o chapéu, fazemos uma longa mesura, e agradecemos por nos acompanhar nesta jornada até aqui. Foi lindo.

Foram 138 contos publicados pela Trasgo, incluindo oito traduzidos da edição especial da Strange Horizons e três exclusivos da edição impressa, escritos por 114 pessoas diferentes nos mais de 7 anos em que a revista esteve na ativa. Foram milhares de contos lidos para selecionar o material de cada edição.

Tenho um orgulho enorme da Trasgo, de ter conhecido pessoas incríveis que foram fundamentais em fazer dela um material de primeira, em especial Enrico Tuosto, Lucas Ferraz e Sol Coelho, além de todos que revisaram cada edição, encontrando os muitos erros deixados por minha incompetência.

Mas há algum tempo vocês percebem que não estamos dando conta de manter a revista no ar como ela merece. Os motivos são vários, entre eles minha falta de tempo desde que tive filhos: o lado financeiro apertou e tive que me dedicar mais aos trabalhos que pagam as contas. Motivos que (até agora) eram temporários. Esse ano era para o mais novo ter ido para a escola, o que daria uma organizada na minha vida.

Há muito tempo tento fazer com a que a Trasgo seja uma fonte significante da minha renda, para que se equipare com o tempo dedicado. Mas não deu e chega um momento que não dá mais. A Trasgo foi mais uma vítima de 2020.

Contudo, não é só dinheiro, é cansaço. A jornada da Trasgo foi incrível, acompanhar a trajetória de cada autora que começou aqui e ganhou o mundo foi o calor no peito que manteve esta locomotiva andando. Mas talvez eu tenha chegado no limite que eu consiga me dedicar a esta revista. Amo editar, descobrir gente nova, trabalhar o texto com carinho para que ele fique pronto. Mas quero fazer coisas diferentes. Outros formatos, outras propostas, novos ares. Ego? Siricutico de artista? Provavelmente.

Como disse o Lucas numa de nossas conversas, "E no fundo no fundo, a Trasgo não merece que a gente leve em frente sem colocar o coração todo nisso, como era até não muito tempo atrás".

A Trasgo chegou numa parede, e a parede sou eu. A Trasgo poderia continuar, mas com outro editor-chefe. Mas por que entregar este peso a outra pessoa? Chegamos a um ponto no mercado onde precisamos de mais revistas, com outras caras, outras vozes, outras propostas. Em vez de entregar um projeto "formatado", quero ver o que esse pessoalzinho mais novo vai inventar. Como um senhorzinho curioso, estou de olhão aberto, esperando ser maravilhado.

Como diz a clássica canção de Nelly Furtado com Di Ferrero, "o que é bom sempre tem um final".

Tudo o que selecionamos para publicar já está no ar. Ainda tenho alguns acertos antes de fechar as portas, principalmente, centenas de zines para mandar para apoiadores, trabalho para mais de ano (desculpem pelo atraso, gente).

A Trasgo também vai continuar no ar, os contos ficarão aqui para todo mundo ler.

Uma dia ela volta? Tenho ideias que podem funcionar aqui com a Trasgo, quem sabe quando meus filhos estiverem mais velhos não tiro o pó daqui e voltamos? Quem sabe num Brasil pós pandemia eu consiga voltar às edições frequentes? Provavelmente não, mas o futuro é um país estrangeiro.

Em Sementes Quechuas, último conto que publicamos, a morte não é um final, mas a semente que alimenta. É hora de enterrar este corpo magnífico que nos carregou nessa jornada para que novas vidas brotem.

Daqui para o (cyber)espaço

A Trasgo encerra um ciclo. Quanto a mim, como editor, como Pessoa Que Faz Coisas Na Internet, estou com ideias e projetos, alguns ligados à literatura, escrevi sobre isso aqui. Me siga lá no rodrigovk.com.br, assine minha newsletter para acompanhar.

E claro, aproveite para ler tudo o que já publicamos por aqui. São incríveis, garanto, e revolucionaram o meu jeito de pensar em ficção científica e fantasia em português.

Por fim, como não poderia deixar de ser, fica a recomendação de acompanhar as outras revistas que estão fazendo um trabalho incrível ou prestes a despontar:

Muito obrigado!

Muito obrigado, de coração, a cada apoiadora e apoiador, a cada tuíte de divulgação, a cada mensagem, e-mail e abraço virtual recebido. Vocês fizeram a Trasgo possível, e só tenho a agradecer pela jornada.

Fiquem bem,
Rodrigo van Kampen
O editor

Author: rodrigovk

4 thoughts on “Isso é um adeus?

  1. Caramba, essa noticia partiu meu coração em mil pedaços 😢 a gente nunca espera q um projeto bom assim vá ser interrompido em algum momento, ainda mais um que nos inspira. Minha revista, a Perpétua, só nasceu e tem se mantido por causa de vocês, do pique e da criatividade. Vão deixar muita saudade mesmo. Obrigado pelos contos e pelo empenho

  2. Ô, Rodrigo… orgilho e alegria imensa por ter sido convidada, por ter estado a altura por duas vezes, por ter um espaço para Pelume em uma publicação de primeira categoria. Obrigada pelo espaço, pelos contos maravilhosos de tantos autores maravilhosos. Valeu, por tudo!

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