Fernanda Castro tentou ler O Conde de Monte Cristo aos dez anos de idade e não entendeu nada, mas nunca desistiu do mundo das histórias. Em 2015 criou o blog The Bookworm Scientist, onde analisa livros, técnicas de escrita e mercado literário como quem conversa na mesa do bar. De tanto debater sobre obras alheias, também ficou com vontade de explorar as próprias narrativas. Quando não está lendo ou escrevendo compulsivamente, faz mestrado em computação, cuida de calopsitas hiperativas, procrastina, assiste Netflix e faz crochê nas horas vagas.
Seu conto "Na Fila do Check-In" é uma mistura de fantasia com um boa dose de humor. Como surgiu a ideia de criar essa história?
Quando a gente pensa no gênero fantástico como um todo, a primeira imagem que vem à nossa cabeça é a da fantasia clássica: o cavaleiro de capa e espada, a feiticeira, o dragão. Embora existam vertentes dissonantes, a fantasia costuma ser atrelada à uma visão épica, de feitos hercúleos e pessoas grandiosas. Só que às vezes eu gosto de apenas imaginar o que aconteceria se pessoas normais como eu e você, que pagam boleto e pegam ônibus, vivessem em um contato próximo com a magia. Como a gente iria se virar, como seria o nosso cotidiano. E que atire a primeira pedra quem nunca foi pego de surpresa pela burocracia de um local como o aeroporto.
Quando e como você começou a escrever ficção?
Sempre fui uma consumidora ávida de livros de fantasia, e pode-se dizer que tive uma infância bem mágica e recheada de narrativas. Minha irmã costumava me contar histórias baseadas em livros e filmes que curtíamos, um capítulo por noite ates de dormir, e todo mundo aqui em casa sempre foi muito "proseador" (o que significa ter uma mina infinita de ideias sempre à mão). Então não sei dizer exatamente o momento em que comecei a escrever… foi algo que simplesmente aconteceu. Porém, foi apenas com a criação do blog, em 2015, que passei a enxergar a escrita como uma atividade que eu gostaria de fazer profissionalmente.
No seu blog, The Bookworm Scientist, entre outros assuntos você fala sobre mercado editorial. Você considera importante que o autor iniciante busque conhecer mais a fundo o mercado?
Ora, com certeza! O mercado editorial é o pano de fundo por onde a literatura caminha. Não creio que o escritor deva "se vender para o mercado", mas também não acredito que um autor possa escrever apenas o que quer e do jeito que quer (ao menos não se ele deseja pagar as contas no fim do mês). Existe um meio termo saudável nessa equação. Conhecer o mercado vai te ajudar a perceber em que nicho você pode trabalhar, vai te ajudar a enxergar melhor as oportunidades e a selecionar o seu público alvo, bem como aprender com a experiência prévia de outros escritores. Ainda mais aqui no Brasil, ser autor significa também entender razoavelmente de negócios e publicidade.
Como é sua rotina criativa e processo de escrita? Há condições ideais para se escrever ou basta ter um tempinho sobrando?
Geralmente parto de um conceito. Pode ser algo que vi na rua, no cinema, ou mesmo um daqueles enormes "e se?" que surgem na nossa mente em plena segunda-feira. Se for algo que me chamou atenção, que me fez parar pra pensar, começo a desenvolver a trama ao redor. Geralmente escrevo logo as primeiras cenas, para sentir o clima da história e dos personagens, para só então tentar estruturar o enredo (o que me leva à várias revisões/reescritas, mas prefiro assim). Quanto às condições ideais de escrita…elas parecem só surgir aos 45 do segundo tempo, quando preciso acordar cedo no outro dia ou tenho mil outras coisas pra fazer. Quando não tenho tempo de escrever, eu escrevo que é uma beleza…
Você publica histórias no Wattpad. Qual sua relação com essa plataforma? Você daria algum conselho para alguém que estivesse pensando em publicar por lá?
Eu sou uma grande entusiasta da plataforma, mas sempre aconselho que o pessoal vá até lá com os pés no chão. Embora existam sim casos de sucesso, de pessoas que saíram do Wattpad com um grande contrato e uma legião de fãs, a plataforma possui uma concorrência gritante: é muito difícil conseguir um lugar ao sol. Além disso, como é um sistema aberto e que não exige profissionalismo, você vai dar de cara com panelinhas, trolls e gente que tá lá apenas pela diversão mesmo (o que não é problema algum). Então não dá para pensar no Wattpad como um local de trabalho. Porém, ele é um excelente termômetro para a sua história, que te permite ter contato com o leitor capítulo a capítulo. E puxa, você consegue leitores muito fiéis por lá. Gosto de postar a primeira versão de minhas histórias no Wattpad e, conforme vou vendo o que está funcionando e o que não está, reviso e crio a versão final fora da plataforma.
Qual são seus próximos projetos literários?
Estou trabalhando na divulgação da "Antologia Valquírias", uma coletânea de contos que organizei junto à Marcia Dantas. O Valquírias foi um projeto voltado apenas para autoras de fantasia, como uma espécie de oficina visando o protagonismo feminino. Foi uma experiência bem rica (e maluca), e eu não poderia estar mais orgulhosa. Fora isso, estou me dedicando a revisar uma história que criei durante o NaNoWriMo, reescrever o primeiro livro que postei no Wattpad e batalhando para colocar no papel uma ideia que me persegue faz tempo. Sendo um pouco sonhadora, gostaria de revisitar o universo que criei no conto "Chaga", de 2015.
Quais as fontes para nossos leitores saberem mais sobre seu trabalho?
Além do blog, o The Bookworm Scientist (bookwormscientist.com), estou sempre online na fanpage do Facebook e no Wattpad. Tem também a minha newsletter, a Destinos Traçados, onde falo sobre temas mais amplos do que o mundo literário. O bom da newsletter é que de tempos em tempos envio contos inéditos para os leitores, de forma gratuita. Adoro jogar conversa fora, então se alguém quiser entrar em contato, eu diria para essa pessoa ficar super à vontade.