Entrevista: Carol Peace

Carol Peace nasceu em Manaus e hoje reside na Paris dos Trópicos. Escreve e ilustra, fazendo parte do Clube dos Quadrinheiros de Manaus, um grupo de escritores e desenhistas de histórias em quadrinhos amazonenses. Atualmente publica webnovels independentes (tais como “A Ordem do Amanhã” e “Infinity Lands”), além de escrever contos de Sci-Fi para diversas coletâneas nacionais. Seu conto distópico “TK2K” foi publicado pela Editora Draco em 2015 na coletânea “Samurais X Ninjas”. Siga nas redes sociais: twitter, facebook, tumblr e Instagram – @peacemakersama.

"Você está morto, Jesse Danvers" trata de como a fama é passageira e dependente não só do artista. Por que você escolheu explorar este tema? De onde surgiu a ideia para a história?

Sempre achei o assunto da venda da imagem um assunto instigante até porque considero o conceito de beleza bastante subjetivo. Por conta disso, tive a ideia inicial ao perceber a quantidade de sites com perguntas para montar “a pessoa perfeita” e pensei: por que não uma sociedade em que se criam pessoas “perfeitas” para serem consumidas? Depois disso pensei em dois personagens em posições antagônicas, um deles sendo uma celebridade e o outro sendo uma pessoa que deveria consumir os produtos relacionados às celebridades.

Além da premissa, o texto apresenta um futuro distópico dominado por essa ideia da influência da mídia. Como foi o processo de desenvolver este cenário?

O desenvolvimento do cenário levou em consideração muitas de minhas leituras distópicas favoritas tais como “Laranja Mecânica” (Anthony Burgess) e “Admirável Mundo Novo” (Aldous Huxley) em que a massificação dos meios de comunicação moldou a forma com a qual a sociedade lida com as pessoas em geral. Uma vez que já vivemos numa sociedade em que a mídia massifica o culto à aparência e torna as pessoas objetos de consumo, não é difícil encontrar realismo numa história de ficção que aborde tal tema.

O enfoque LGBTQ+ da história emergiu da questão de representatividade; em histórias em que temas inerentes ao cyberpunk estejam presentes raramente é possível ver uma representação digna e positiva de personagens queer. Por conta disso, a história de Jesse e Gary tenta trazer uma linguagem positiva de um relacionamento queer.

Por que você optou por usar nomes ingleses, como Jesse e Gary, ao invés de apresentar personagens "brasileiros"?

Quando comecei a escrever a história, optei por uma temática mais cyberpunk e, por conta disso, levei em conta a afinidade do tema aos nomes com sonoridade estrangeira. No mais, o assunto de representar ou não personagens brasileiros não foi uma questão de preferência e sim de mero ímpeto em encontrar nomes com algum significado especial. Na verdade, Jesse e Gary não são nomes etimologicamente ingleses. O primeiro uso do nome Jesse é hebraico, mas a escrita do nome advém da forma Holandesa para esse nome. A escolha do nome é por conta da etimologia hebraica que traz o significado de “presente”, representando que Jesse é especial e único. Quanto ao Gary, o nome está mais atrelado à sua origem Germânica, relacionada com a palavra “lança”, a fim de afirmar o quanto o personagem se relacionava à uma classe trabalhadora, sendo um “peão”.

Como é o seu processo de escrita, usualmente? Possui alguma dica ou truque que queira compartilhar com os leitores da Trasgo?

Meu processo de escrita é bastante confuso para quem não estiver acostumado comigo. Talvez explicar, por si só, valha um artigo, contudo, posso afirmar que meu processo é 99% trabalho braçal e 1% inspiração. É puro trabalho duro, páginas e mais páginas escritas de próprio punho, rasuradas à exaustão; ainda escrevo à moda antiga.

Quais escritores e obras mais te influenciam? Tem alguma recomendação de leitura para nós?

Talvez minha maior influência em escrever seja de Mary Shelley. Frankenstein é uma história que me marcou muito, desde o primeiro momento em que li em minha infância. Uma leitura pesada? Talvez tenha sido. Quanto ao estilo, busco muito a sutileza de PKD em seus contos e as metáforas de William Gibson.

Porém, tenho uma escritora bastante interessante para recomendar para os leitores da Trasgo: Nnedi Okorafor. Para quem não conhece, ela escreve histórias de ficção científica e especulativa, bem como fantasia, todos com uma pegada afropunk. Recomendo bastante para quem estiver desejoso em ler algo diferente e maravilhoso. Não sei se o livro Who Fears Death (Quem teme a morte) já foi lançado no Brasil, mas recomendo muito a leitura.

Para aqueles que gostarem do seu trabalho, onde podem te encontrar internet afora?

É bem fácil me encontrar. Tenho uma fanpage no Facebook em que publico webnovels e contos (fb.com/PeaceMakerSama) e no Twitter basta procurar a “arrobinha” @peacemakersama. Adoro falar sobre SF, heróis (e heroínas) e tudo mais que tiver alguma ciência no meio.

O que podemos esperar de Carol Peace no futuro? No que você tem trabalhado?

Podem esperar mais SF. Apesar de estar flertando com alguns temas mais fantásticos, continuarei com o foco maior na literatura de Ficção Científica. É uma estrada árdua e difícil, ainda mais no Brasil.

Author: Enrico Tuosto

Enrico Tuosto é escritor, revisor da Trasgo e rockstar fracassado. Também cuida das redes sociais e da newsletter da revista, mas o que ele gosta mesmo de fazer é jogar RPG. enricotuosto.tumblr.com/writing

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