Fred Oliveira é gastrônomo por profissão, historiador por predestinação, comediante por inconveniência e escritor por insistência. Atualmente escreve contos de horror e ficção científica e pretende lançar um livro em cada gênero. Um dia. Cria um gato preto e rabugento chamado Azeviche e adora Literatura Especulativa.
“Arca dos Sonhos” mostra um pequeno momento de uma viagem espacial interminável em uma enorme nave, tema querido por escritores e leitores de ficção científica. Quais os seus favoritos nesta vertente?
Talvez a maior obra nesse estilo seja a série literária Rama, de Arthur C. Clarke, na qual uma enorme nave chega até o nosso sistema solar em um futuro bastante próximo. A tripulação e os criadores do veículo, praticamente um mundo auto-contido, são desconhecidos, bem como suas intenções, ao menos inicialmente, e sua jornada parece jamais cessar. Acho que a temática da viagem ao desconhecido, os problemas e perigos envolvidos, são algo que acompanha o ser humano há séculos, como é o caso da Ilíada, de Homero, ou dos Lusíadas, de Camões. Basicamente, falamos de homens e mulheres (ou outras espécies e gêneros) se lançando em uma aventura que busca desvendar um mistério transcendental, algo que valha a pena sacrificar felicidade, amor, sanidade ou a própria vida.
E outras referências literárias e inspirações suas?
Essa é uma pergunta que renderia dias inteiros de conversa. Meus maiores ícones, especialmente durante a minha adolescência e período de descoberta da FC, foram Clarke e Asimov, como creio acontecer com muita gente ainda hoje em dia. Mas também fui muito influenciado por filmes como as sagas Guerra nas Estrelas e Alien, além de quadrinhos, como Homem-Aranha, X-Men e boa parte do universo cósmico da Marvel, mais bem representado pelo Quarteto Fantástico e o Surfista Prateado. Fora da FC, sou fascinado por boas histórias de horror, onde o sobrenatural perpassa narrativas de mistério, loucura e morte. Aí, também me volto aos clássicos, como Mary Shelley, Edgar Allan Poe e Lovecraft, que tem me inspirado bastante nos últimos tempos. Também sou um grande fã de Fantasia e acho que nem preciso citar a força de Tolkien nesse departamento, além de sempre ter sido um grande fã de M.Z. Bradley. Para não ficar apenas nos clássicos, recomendo a leitura de autores como Vernor Vinge, Dan Simmons, André Vianco, Roberto Causo, Carlos Orsi, Brian K. Vaughn, Neil Gaiman, George R. R. martin, entre outros. Finalmente, gosto muito de histórias, sejam elas de FC, Fantasia, Horror, Romance, Drama, Comédia ou o que quer que seja. Fossem os causos de mal-assombro que meu avô contava ou os livros da coleção Vaga-Lume que eu desenterrava na biblioteca da escola, sempre fui um leitor (e um espectador) muito voraz.
Há algum motivo especial na escolha do poema de Henley no começo do conto?
Para começar, é simplesmente um poema belíssimo, porém com poucas boas traduções para o português. Como fui professor de inglês por muitos anos, me dei o desafio de fazer uma versão que me parecesse respeitar mais as palavras e intenção do original. Além disso, Henley fala, no seu Invictus, sobre vencer contra chances esmagadoras, sobre tomar as rédeas do próprio destino apesar de todas as dificuldades, sobre seguir em frente, custe o que custar e ainda ser grato por essa determinação. Achei que se encaixava perfeitamente com a busca empreendida pelo Capitão que protagoniza a história.
Como geralmente é seu processo criativo, e como foi construir “A Arca dos Sonhos”?
Eu sou muito inquieto e costumo ter várias ideias, que procuro anotar sempre que posso, porque também sou muito desmemoriado. Mas, como dizem por aí, uma ideia não é uma história, é preciso encontrar um objetivo, um plano, personagens que mudem ao longo da narrativa. Em suma, é necessário envolver o leitor e fazer com que ele se importe o bastante para ler até o final, e isso se faz com uma narrativa interessante, personagens com um mínimo de profundidade, alguns conceitos originais e bastante esforço. Um professor de história meu, da época do Mestrado, costumava dizer que não tem essa de esperar a musa aparecer para se inspirar: é preciso escrever sempre, escrever sem parar, escrever mesmo quando não se está muito certo de para onde a narrativa está caminhando. Escrever é um prazer, uma arte, mas também é um trabalho e não se pode se render ao pânico de eventuais páginas em branco.
No que mais tem trabalhado? Há algo mais que queria divulgar nesta entrevista?
Sou Mestre em História e recentemente ingressei um doutorado, na mesma ciência. Estou lançando um livro de não-ficção, minha dissertação que trata das influências francesas no Recife no começo do século XX. Sairá pela CEPE e estará disponível, provavelmente, em novembro deste ano. Tenho escrito muitos contos de Horror ultimamente e estou trabalhando em uma antologia própria, a ser lançada quando o mercado nacional passar a se interessar mais por esse tipo de literatura (pode demorar um pouco). Tenho outros contos de FC engatilhados e estou trabalhando em um livro que pode se tornar uma trilogia, envolvendo uma guerra futurista contra um inimigo misterioso em um Brasil que não é mais exatamente o lugar que já foi. Também costumo escrever textos bem-humorados e já mantive um blog, hoje desatualizado, chamado Blog da Reclamação, com algumas centenas de histórias curtas no gênero da comédia. Ele ainda está lá, abandonado, mas vivo. Também escrevo sobre alimentação infantil para a Revista Acene.
Quem deseja saber mais e conhecer melhor o seu trabalho, onde encontra?
Estou estudando criar uma página no Facebook para os meus textos mas, por enquanto, quem quiser ler mais coisas de minha autoria pode visitar, como já mencionei, o Blog da Reclamação. Além do conto na Revista Trasgo, deve sair mais um de FC na Revista Somnium, do Clube de Leitores de Ficção Científica, lá por setembro ou outubro. Finalmente, é possível encontrar alguns contos de Horror de minha autoria no blog pernambucano Recife Assombrado. Recomendo a leitura do A estrada Dela, um dos meus favoritos.