Helton Lucinda Ribeiro é jornalista e sociólogo, servidor público, paulistano, 44 anos, casado com a Heloisa, leitor contumaz e escritor diletante, ex-jogador de RPG, estudioso do taoismo, consultor de I Ching, fã de faroestes e do Zé do Caixão, e, nas horas vagas, pesquisador na área de rádio.
De onde surgiu a ideia para “O Causo do Cemitério”?
O Causo do Cemitério é um spin-off de um romance que eu escrevi e ainda não publiquei, chamado Ezebeth. Minha ideia era resgatar o mito clássico do vampiro e ambientá-lo em uma pequena cidade do Brasil. O conto se passa décadas antes da história contada no romance. Tenho na memória imagens de filmes de vampiro que vi na infância, em que as criaturas apareciam em cemitérios, e resolvi brincar com essa ideia. Ou seja, como um vampiro poderia circular em um local repleto de símbolos religiosos? A Ezebeth já me rendeu duas histórias derivadas. A outra se chama Um Brasileiro na Transilvânia, também inédita e que se passa no final do século XVIII, cujo protagonista é um personagem da história do Brasil que realmente esteve na Transilvânia.
Qual trecho do conto foi mais difícil de escrever?
Acho que a aparição da moça do casarão. Ela é a heroína do romance, tem características físicas e de personalidade descritas detalhadamente. Mas, no conto, queria que sua presença fosse algo mais diáfano, espectral. Então, optei por fazer com que ela aparecesse pelo olhar de um personagem, o Vicente, que não é o narrador da história. O narrador nos conta o que ouviu do Vicente e isso é tudo o que temos sobre a moça misteriosa. Espero que os leitores gostem dessa solução.
Eu gostei muito da linguagem que você adota no conto e da fluidez da história. Quais autoras te influenciam?
Minhas grandes influências são os escritores brasileiros que abordam o meio rural, o sertão, a cultura caipira. Guimarães Rosa, Mário Palmério, Bernardo Elis, Monteiro Lobato e, especialmente, José J. Veiga, que faz a mistura da ambientação rural com a fantasia. Veiga é o meu autor favorito no momento. Em relação às histórias de vampiros, posso citar como referências os clássicos, como Bram Stoker e Sheridan Le Fanu. Agora, estou começando a escrever alguma coisa de ficção científica, e minhas principais influências no gênero são Ursula Le Guin e Margaret Atwood, autoras que só fui ler muito recentemente e me impressionaram muito.
Como é o seu método de escrita?
Acho que ainda estou desenvolvendo um método. Sempre quis ser escritor, mas passei anos esperando um insight, uma inspiração na forma de uma história com começo, meio e fim, o que nunca aconteceu. Só mais recentemente percebi que eu preciso começar a escrever e, a partir da própria escrita, a história se desenvolve. Quando eu começo um conto, não sei como vai acabar. Encerrar a narrativa é a parte mais difícil.
Você está numa mesa de bar sob a luz turva e amarela de uma lâmpada fraca. Alguém está conversando com você aos sussurros. Quem é essa pessoa?
José Mojica Marins, por mais assustadora que a cena possa parecer! Sou muito fã dele e é o tipo de cara com quem gostaria de bater um papo em uma mesa de bar. Com essa atmosfera aí, ficaria perfeito!
Onde podemos encontrar mais sobre você? Use este espaço para nos contar de qualquer projeto vindouro e deixar seu contato para os leitores da Trasgo.
Tenho uma conta no Wattpad (wattpad.com/user/HeltonLucindaRibeiro). Por enquanto, não tem muita coisa lá, mas quero postar mais textos. Outro conto meu disponível na internet é Quixote Sama, publicado pela revista Subversa (canalsubversa.com). Um dos meus projetos é reescrever alguns trechos de Ezebeth e tentar publicá-lo. Também estou trabalhando em uma história de ficção científica, como eu disse. Ainda não sei se vai ser um conto ou um texto mais longo. Vamos ver como a história vai se desenvolver. Só sei que também vai ter essa pegada sertaneja.
Última pergunta: se fosse você no lugar de Vicente, também teria ficado com a ideia na cabeça de voltar a Embu da Peste mesmo depois do causo?
Sou medroso no que diz respeito ao sobrenatural. Por maior que fosse a curiosidade em relação à moça, eu não voltaria. Aliás, nem teria saído à rua na segunda noite, depois das histórias sobre lobisomens que os moradores de Embu da Peste contaram.